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  Texto selecionado
Um pássaro
José Rony de Andrade Alves

Resumo:
Leia

Uma nuvem velejava lentamente cortando o horizonte até envolver os raios solares, ao passo que minha visão enturvava pela interrupção brusca da luminosidade. Isso me incorreu nessa manhã, quando eu estava sentado na varanda apreciando a digestão e a sonolência depois de um almoço calórico. Tinha chegado do trabalho com uma fome fustigante. No horizonte, a ligeira penumbra amainava aquele momento reflexivo em que eu estava. Não sei bem ao certo o que sentia, estava meio chateado e meio vazio. Não tinha motivo aparente, apenas sentia isso. Quando eu observava o horizonte, longos minutos se passaram e a nuvem ainda ofuscava o sol, e um pássaro planava bem no alto, estonteante e destemido, rumando a uma vida, que para mim não tinha muito sentido. Por que ele voa por aí, sem propósito de vida, sem convicções? Ele apenas voa diante da corrente do destino irrevogável e, brevemente, nem sequer virará lembrança.

Qual seria o propósito da existência dos pássaros? O que eles almejam? Será que querer voar muito alto não seria um risco de uma grande queda? Eu sei que não serei lembrança de muitos, talvez os poucos que se lembrarem da minha existência não vão fazer diferença. Pelo menos não serei como os pássaros, que tão breve quanto a existência deles, tão breve serão as suas lembranças. Eles não sofrem pelas perdas. Continuam a voar. Isso é viver sem sentido.

Mas por que eles não desistem e param de voar; voar deve ser cansativo, tão cansativo quanto viver. Realmente acho minha vida cansativa, repetitiva, mas pelo menos ela ainda tem um sentido. Ou melhor, cultivei essa ideia de sentido ao longo da minha vida, só não encontrei ele ainda. Mas deve ter. Tem que ter. Só os pássaros que vivem sem sentido. Eles não significam muito. Apenas vivem repetindo o ato de voar. Todos os dias, incansavelmente...

Mas pera! Será que eu não estou vivendo sem sentido? E essa ideia de acreditar no sentido seja a minha incongruência? Ou talvez o sentido da vida seja não ter sentido? E se os pássaros tiverem sentido e eu quem não tenho sentido? Talvez o que eu estou falando não tenha sentido. Mas os pássaros não precisam de sentido para continuar existindo, eles vivem sem se preocupar com isso. As pessoas ao perder o sentido de viver acabam deixando de viver. Já os pássaros nunca perdem o sentido, continuam em frente, cortando nuvens e beijando o sol. E eu aqui, olhando eles voarem, e julgando a falta de sentido deles. Sou eu quem não tem sentido. Sou eu que por receio não aprendi a voar. Sou um pássaro deficiente, que por mais que eu saiba como voar, o medo de cair não me deixa arriscar. Nunca parei para refletir antes, nunca parei para ver o sol. Qual foi a última vez que eu olhei para uma nuvem e entre ela vi um pássaro a voar? Quando foi que eu olhei para o sol e fiquei ofuscado, e mesmo ofuscado enxerguei a esfera flamejante? Eu vivo o dia sem ver o sol. Vivo a noite sem ver a lua. A vida tem sentido, eu quem vivo buscando sentido, mas o sentido tá aí. O sentido da vida é para o lado que você deseja seguir. Ou melhor, a sua vida é o maior sentido da sua existência...


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