Quando os vencedores se reuniram para dividir o espólio da Segunda Guerra Mundial, Josef Stálin tinha um grande trunfo. Seu exército impediu o Terceiro Reich de invadir a União Soviética. Os sonhos de Hitler começaram a desabar no congelante inverno russo. O orgulho da vitória camuflaria os horrores cometidos por Stálin depois.
De posse do seu império com a Alemanha dividida por um muro, muito tempo se passaria até que as barbáries e atrocidades do Stalinismo fossem conhecidas. A ditadura de Stálin foi marcada pelos expurgos. Pelas perseguições e assassinatos de opositores. Pela obrigatoriedade do culto à personalidade. Alguns historiadores afirmam que entre 10 e 20 milhões de pessoas foram mortas pelo Stalinismo.
“O Arquipélago Gulag" foi publicado no ocidente em 1973, e escrito entre 1958 e 1967. Neste período seu autor Alexander Soljenítsin foi prisioneiro político no “gulag”, os campos de trabalhos forçados. No livro, Soljenítsin narra os acontecimentos que presenciou num dos campos do arquipélago de Kolimá. Poucas pessoas na União Soviética sabiam da existência desses campos. Das condições de vida dos prisioneiros.
Recentemente Kolimá foi o assunto de uma reportagem do jornal The New York Times e reproduzida pela Folha de São Paulo. “Estrada dos Ossos na Rússia esconde relíquias de sofrimento e desespero do gulag de Stálin” se lê no título.
Construída por prisioneiros nos meses do verão, foi a rota de chegada para outros milhares de prisioneiros. Como escravos trabalhavam nas minas de ouro. Kolimá foi o gulag mais mortal do Stalinismo. "A estrada que rasgou uma natureza intocada as belezas são impactantes". "A neve derretida revela vestígios de túmulos sem identificação". "Mais de um milhão de prisioneiros trafegaram pela Estrada dos Ossos”, diz a reportagem.
A reportagem cita três vítimas que estiveram em Kolimá e sobreviveram. Após deixar o gulag, o cientista de foguetes Sergei Korolev ajudou a colocar o primeiro homem no espaço em 1961. O poeta Varlam Chalámov ficou preso por quinze anos. No seu livro “Contos de Kolimá” ele escreve: Há cachorros e ursos que agem de modo mais inteligente e moral que seres humanos”.
Presa quando adolescente, aos 93 anos Antonina Novosad ainda se lembra da colega morta a tiros por ter saído para colher frutas além do arame farpado. Depois de enterrado o corpo foi levado por um urso. Para Antonina, Stálin continua um deus. Culpado era o partido. “Stálin só assinava”. Lembrou-se ainda do choro de pesar dos prisioneiros com o anúncio da sua morte em 1953.
As pesquisas de opinião pública assustam. Uma diz que 76% dos russos continuam favoráveis a União Soviética de Stálin. Outra concluiu que quase 50% dos jovens russos nunca ouviu falar das atrocidades do Stalinismo. É fácil se esquecer dos ossos.
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