Fora de sua época de frutos uma amoreira não é lá muito atraente.
É bem verdade que entre as inúmeras árvores frutíferas, poucas são as que mantem o poder atrativo – sem algo a oferecer.
Se fosse dotada de sentimentos, assim como a espécie humana, certamente a mesma lamentar-se-ia, pelo pouco caso. Somente um ou outro pássaro de natureza irrequieta, agitada, vez por outra balançava seus galhos. É claro que era o desassossego que os fazia voar de árvore em árvore, e saltitar de galho em galho de modo incessante.
O galho mais grosso não atingia a espessura de um punho.
Sim, a amoreira era pequena. O bom porte somente viria com o futuro, contudo, a mesma já tinha idade suficiente – para fecundar.
Entre a cor branca e o verde claro: esse foi o primeiro estágio dos frutos. Na luta para realizar o – propósito estabelecido pelo Criador uns cumpriram a primeira etapa de modo antecipado, deixando os outros para trás, ganhando como prêmio a cor vermelha, como uma espécie de pubescência moráceas. Quando parte dos retardatários tornaram-se, avermelhados os outros ficaram escuros, como um tributo ao sangue derramado por Píramo e Tisbe, segundo a mitologia, e de sabor acre doce, acabando com a solidão da pequena amoreira.
Agora ela era o ponto para onde – convergiam à passarada e a criançada, e vez por outra um ou outro adulto.
Pelo tamanho e o gorjear eram os sabias que ocupavam um lugar de destaque no pequeno pé de amora à beira da rua.
O vaivém das pessoas não os assustava. Só acontecia o revoar quando as crianças puxavam um galho aqui e ali para recolher os frutos e levá-los a boca.
As duas garotinhas vinham em direção à pequena árvore para também comer seus frutos. De acordo com meus cálculos uma tinha em torno de dez anos, e a outra uns oito, nove. Como eu seguia em direção oposta o encontro tornou-se, inevitável.
– O segredo não é a gente mudar, é fazer Deus mudar – disse a maiorzinha, de modo enfático a coleguinha.
Uma frase isolada de um diálogo que, a distância impedira de chegar aos meus ouvidos em sua totalidade, levou-me, ao universo das questões: poderia uma garotinha de tão pouca idade falar algo de natureza tão enigmática com uma linguagem autoral? Não! Com certeza a mesma ouvira o pai ou a mãe proferir esta frase, ou então um líder religioso, daqueles voltados ao estilo coaching.
Pobre garotinha. O que acontecerá quando descobrir que Deus – não muda*? Será esta a primeira grande decepção de sua vida? Mal sabe ela de que são as criaturas que devem submeter-se aos princípios do Criador, e não o Criador submeter-se aos caprichos de suas criaturas.
*Malaquias (3/6)
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