PATRÍCIA DE CÁSSIA LOPES
Trajetória profissional e atuação na área de violência e saúde
Ao longo do bacharelado em Serviço Social pela Universidade Estácio de Sá, estagiei no Projeto Vinde a Mim da Instituição Luz dos Povos, durante quase 2 anos. Há 12 anos, esta entidade promove o desenvolvimento educacional infantojuvenil, visando reduzir as desigualdades sociais através de atividades psicopedagogas. Dentro desse contexto de vulnerabilidade socioeconômica, pude aperfeiçoar tanto a observação quanto a escuta qualificada para identificar traços de violência física e psicológica. Esse período realçou a necessidade, não só do conhecimento técnico, mas também da importância na percepção humanizada de conflitos relacionados à violência.
O contato com casos de violência foi observado com maior frequência nos setores de emergência e internação dos Hospitais Miguel Couto e Pedro Ernesto, enquanto era estagiária do Curso Técnico de Enfermagem realizado no Senac. Apesar do medo e constrangimento, os acontecimentos que levavam a agressão eram expostos pelo pacientes durante a realização dos cuidados de enfermagem. Nesta condição, as vítimas eram, em sua maioria, mulheres adultas provenientes de comunidades carentes com risco e vulnerabilidade social, além de aparentarem baixo nível escolar e faces pouca expectativa de independência financeira. Esta abordagem individual mostrou a singularidade e importância de cada caso e aumentou o interesse de aprofundar os estudos relacionados a violência.
Atualmente, o trabalho como agente comunitária de saúde no Centro Municipal de Saúde Salles Netto, tem ampliado a aproximação com um público diverso: pacientes com transtornos psiquiátricos, usuários de entorpecentes, idosos, deficientes físicos, gestantes e crianças. Esta vivência, também possibilita observar de forma abrangente a violência nos seus mais variados níveis. Já que, muitos usuários expõem suas experiências pessoais e familiares procurando alcançar conforto emocional e visando uma transformação do seu contexto social.
Dentre as regiões atendidas pela clínica, o lugar chamado Cracolândia é o território mais desafiador para amenizar o curso da violência, uma vez que, o convívio entre moradores de rua está repleto de desigualdades socioeconômicas. O contexto de abandono moral, intelectual e material aliado ao abuso de álcool e entorpecentes gera um ambiente altamente hostil e propício para a permanência da violência. Este lugar mostrou ser um dos lados mais difíceis de se encarar, como pessoa e profissional, até hoje.
É necessário a promoção de políticas que tenham em vista o cuidado pra reduzir a naturalização da violência. Mas também, é preciso que haja uma oferta de profissionais cada vez mais qualificados em busca de desconstruir essa cultura de violência. Por isso, o interesse na área de violência e saúde é evidenciado não só pela minha carreia profissional, como também pela busca de conhecimento cientifico através da educação permanente sobre o tema.
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