Duas atividades são muito eficazes no combate ao desânimo, estresse, mau humor. Ambas são fantásticas para acalmar e ordenar os pensamentos. Refiro-me à caminhada e ao tricô. Verdadeira terapia. Para mim é assim que funciona.
Resolvi tricotar com uma linha de seda. Macia,colorida,brilhosa. O fio todo trabalhado não necessitava nem de ponto especial. Parecia tudo muito fácil.
Pois aquilo que se parecia com um doce ou brinquedo na mão de uma criança, isto é, capaz de dar prazer, de alegrar, de divertir, de produzir bons resultados transformou-se numa verdadeira penitência.
A linha era escorregadia como algumas pessoas que não se deixam prender ou envolver. A ponta interna do fio a ser trabalhado sempre se enroscava com a parte externa do novelo parecendo alguém que vive em eterno conflito consigo mesmo. Apesar disto segui em frente, torcendo a linha de um lado, desenroscando de outro, voltando atrás tentando consertar alguns emaranhados no novelo, como alguém que fez algo errado e volta para consertar e pedir desculpas.
Eu permanecia firme no meu propósito de seguir em frente apesar dos percalços, da perda de tempo,entretanto isto não foi suficiente para evitar que um verdadeiro ninho de fios enroscados se formasse, sendo impossível seguir em frente.
Nesta altura o desafio já estava estabelecido. Era uma questão de honra. Vou em frente de qualquer maneira, pensava, nem que tenha de cortar em pedaços para ir adiante. Foi o que fiz. O tipo de linha dificulta a percepção das emendas realizadas. Mas eu sei que elas estão lá. Para quem olhar de fora, vai parecer tudo muito bonito, semelhante a certas situações, que só quem está por dentro percebe o que está errado, sabendo o que significa ou o quanto custou cada nó ou avanço. Fui por pedaços arrumando tudo, impotente para resolver tudo de uma única vez. A cada conserto realizado fui percebendo que tal situação era como a vida de muitas pessoas. Deixam-se encantar e seduzir pela aparência e só mais tarde percebem o desconforto que vivenciam, e a dificuldade de visualizarem saídas, enrolados num emaranhado de acontecimentos sem saber como deles se livrar, ou o que é pior, se querem mesmo se livrar, tomando ,às vezes, até por medo ou inexperiência atitudes precipitadas ou desesperadas.
Estas pequenas coisas nos ensinam que é necessário ter muita paciência para visualizar aonde se quer chegar, qual o melhor caminho a ser seguido, e acima de tudo discernir se coisas por demais complicadas valem o esforço, o tempo e o desgaste nelas empregados. Por outro lado, se de imediato as abandonamos é porque elas não mereciam de fato nosso tempo, preocupação, atenção ou desvelo.
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