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A sociedade videogame
(É um questão de todos contra todos)
Roberto Queiroz

Termina o carnaval, começa o ano (como reza a tradição tupiniquínica deste país Peter Pan). E mal acabou a festa de momo nos deparamos com mais uma triste tragédia - e este ano de 2019 já se mostrou terrível só nesse primeiro trimestre no quesito "tragédias em larga escala". Refiro-me ao massacre ocorrido no colégio em Suzano, cidade paulista.

Entretanto, mais terrível ainda do que a própria tragédia em si mesmo é um fato que venho acompanhando de forma persistente nos últimos anos ao redor do mundo: estamos nos transformando numa sociedade videogame.

Ligue a tv da sua casa e aposto que não conseguirá ficar míseras 24 horas sem ver uma tragédia ou desastre ou atentado terrorista ocorrendo em algum ponto do planeta terra. Nos tornamos destruidores em massa e numa escala que remete à dos jogos em rede (tão queridos por adolescentes frequentadores de lan houses). Os games preferidos dessa geração são aqueles em que pessoas matam pessoas gratuita e indiscriminadamente, diferente da minha época em que o barato mesmo era jogar Frostbite e Freeway no Atari. Eu sei... É macabro, porém muito real.

Lembro de ter ficado perplexo ao ler numa matéria de jornal que a empresa que fabricava o sistema de disparo de misséis e treinava os profissionais que seriam responsáveis por tirar as vidas de cidades inteiras era a mesma que fabricava o tão querido e desejado Playstation. Mais uma vez: eu sei... Continua mórbido.

Vivemos numa realidade inventada por pessoas maquiavélicas que desejam a todo custo a eliminação ou destruição do seu semelhante. Se o próprio conceito de amizade tornou-se deturpado após a invenção das redes sociais, imaginem então a sanha de quem deseja tirar do jogo qualquer pessoa que não condiga com suas certezas e opiniões.

Onde iremos parar já passou de pergunta desesperada à mero delírio dos poucos habitantes lúcidos que ainda lutam para sobreviver em meio à barbárie.

Tornamo-nos um mundo que trata a violência como algo divertido, banal. E o ponto mais extremo disso é a maneira como a indústria de cinema e a mídia em geral apropriaram-se dessa mentalidade para criar um universo doentio, travestido de entretenimento.

Pergunto-me a todo momento o que sobrará para as próximas gerações, que já nascem completamente esfaceladas pela falta de um sistema de ensino legítimo e perspectivas de sobrevivência válidas. Lutamos sofregamente para continuarmos relevantes. Sentimentos como alegria e reconhecimento deram lugar a uma competição - e essa é uma palavra que pautará todo este século XXI - irritante e injusta, pois seus jogadores não se encontram em igualdade de condições.

Somos (falo dos lúcidos, dos sobreviventes) pequenos Davis falhos e incompetentes guerreando inutilmente contra Golias mecanizados, com superpoderes, versões aprimoradas do outrora Deus ex machina. Falar em injustiça é pouco. É covardia mesmo!

Ou como disse certo intelectual outro dia desses para um jornal de grande circulação: "vivemos o triunfo da mentira".

Não é mais uma questão de "até quando?" ou "dias melhores virão". Trata-se de encararmos os fatos de frente ao invés de permanecermos observadores distantes de toda esta desgraça diária e contínua.

O problema: fazer a sociedade entender isso. E querer mudar.


Biografia:
Crítico cultural, morador da Leopoldina, amante do cinema, da literatura, do teatro e da música e sempre cheio de novas ideias.
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