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Ser pai não é mole, não!!!
(O guia do pai sem noção: uma bóia salva-vidas para pais de primeira viagem)
Roberto Queiroz

Conhecem aquela expressão "ser mãe é padecer no paraíso"? Então... Para quem acha que ser pai é muito mais fácil - mentalidade essa, por sinal, enraizada em nossa cultura que adora vender a imagem de que pai é qualquer um, mãe é uma só -, vocês precisam ler (e reler várias vezes) O guia do pai sem noção, do quadrinista canadense Guy Delisle.

Delisle desta vez, diferentemente de seus trabalhos anteriores, que têm um caráter meio autobiográfico, meio jornalismo de guerra (e cito aqui como dica para leitores interessados no artista as obras Pyongyang e Crônicas birmanesas), volta-se para sua relação com os filhos pequenos, Louie e Alice.

Um aviso importante: para quem está acostumado a páginas hipercoloridas, cheias de imagens sobrepostas e desenhos sofisticadíssimos, esqueçam esta obra. O volume é todo desenhado em preto e branco e mesmo as ilustrações não tomam toda a página. É um trabalho minimalista nesse sentido. O que está em jogo aqui é a relação pai e filho no que ela existe de mais engraçada e, por vezes, assustadora. Portanto, fãs de autores como Frank Miller, Guido Crepax, Will Eisner, procurem um outro caminho...

As histórias são curtas, mas cheias de uma delicadeza e uma ironia própria do tema. Afinal de contas, mesmo não sendo pai reconheço a dificuldade de se criar filhos numa sociedade e num mundo louco como esse em que estamos vivendo!

Entre as muitas e engraçadas histórias, referências ao natal (e, claro, como o papai noel entrega os presentes sem ser visto), ao ratinho do dente (uma versão canadense da nossa fada do dente), filhos engolindo caroços de frutas e ficando apavorados (o irmão mais velho chega a assombrar a irmã caçula, dizendo que nasceria uma árvore dentro dela) e até mesmo um humor ácido envolvendo ladrões de crianças (talvez o momento em que o autor mais lembre suas publicações passadas!).

Fiz um paralelo interessante entre O guia do pai sem noção e a série Diário de um banana e vejo ambos os trabalhos como complementares. A diferença é que aqui a presença paterna é mais direta no sentido de educar os filhos. Já na série Diário de um banana, falava do despertar da infância e das difíceis escolhas feitas pelo próprio filho. Talvez o personagem da série se sentisse mais à vontade com um pai como Delisle, louco e fora do tom como só ele. Ou talvez eu esteja mesmo é enlouquecendo (algo que sempre acontece quando leio graphic novels e outros materiais gráficos).

Em alguns vídeos no you tube e resenhas de quadrinhos li que esta série já se encontra no terceiro volume no seu país de origem (e espero, sinceramente, que os outros exemplares também cheguem ao Brasil). Digo isso porque vejo uma saturação muito grande do universo super-herói nas livrarias, e estou sempre à procura de um material que fuja do óbvio imposto pela Marvel e a DC nos últimos anos.

Os fãs do que eu gosto de chamar de diferente - e ser diferente hoje em dia tornou-se uma tarefa quase impossível! - vão ficar encantados com o resultado deste O guia do pai sem noção. Uma obra gráfica que me fez pensar inclusive no meu próprio pai, que também foi um homem longe do convencional e que sempre me incentivou a encarar a vida de frente, sem rodeios e sentimentalismos.

Se eu pudesse classificar esse álbum em poucas palavras, diria: "trata-se de uma grande bóia salva-vidas para pais de primeira viagem que não fazem a menor ideia de por onde começar a educar os filhos. E tudo isso contado de uma maneira hilária, mas sem perder o didatismo da relação entre pai e filho.


Biografia:
Crítico cultural, morador da Leopoldina, amante do cinema, da literatura, do teatro e da música e sempre cheio de novas ideias.
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Publicações de número 161 até 170 de um total de 188.


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