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DIFICULDADES DE MEMORIZAÇÃO E RETENÇÃO NA TERCEIRA IDADE
DIFICULDADES DE MEMORIZAÇÃO
Ismael Monteiro

Resumo:
O presente artigo tem como objetivo analisar a dificuldade de memorização e retenção na terceira idade.

DIFICULDADE DE MEMORIZAÇÃO E
RETENÇÃO NA TERCEIRA IDADE


ISMAEL MONTEIRO
RESUMO



O envelhecimento é um processo de alterações físicas, psíquicas e sociais que determina a maneira singular como cada indivíduo viverá os últimos anos de sua vida. O impacto da terceira idade faz com que o indivíduo altere seu hábitos de vida e rotinas diárias. Dentre as mudanças decorrentes do envelhecimento, está a dificuldade de memorização, que é considerada por muitos teóricos como uma ocorrência normal desta fase da vida. Em razão disso, o presente artigo tem como objetivo analisar a dificuldade de memorização e retenção na terceira idade. Para tal, foi feito inicialmente, um embasamento teórico sobre o assunto, observando o que dizem os teóricos sobre a memória, que pode ser entendida como uma das funções cognitivas do ser humano, pois permite ao indivíduo o processo de retenção e resgate de experiências vividas. Numa fase seguinte, analisou-se os aspectos referentes a diminuição da memória na terceira idade e os fatores que influem para isso. Para tentar contradizer ou reforçar o que dizem os teóricos sobre o assunto, foi feita uma pesquisa de campo junto a uma população de 23 idosos, através de um questionário contendo oito questões em que eles poderão manifestar suas opiniões. A conclusão apontou que a dificuldade de memorização e retenção é um dos problemas que mais afetam os idosos, mas eles não se sentem desmotivados e voltam a estudar porque precisam conquistar novas oportunidades de trabalho.
Palavras-chave: memória, dificuldades, retenção, idosos, terceira idade, teóricos, pesquisa de campo.


ABSTRACT


The aging is a process of physical, psychic and social alterations that determines the singular way as each individual will live the last years of its life. The impact of the third age makes with that the individual modifies its habits of life and daily routines. Amongst the decurrent changes of the aging, it is the memorization difficulty, that is considered by many theoreticians as a normal occurrence of this phase of the life. In reason of this, the present article has as objective to analyze the difficulty of memorization and retention in the third age. For such, was made initially, basement theoretical on subject, observing what the theoreticians say on the memory, that can be understood as one of the cognitivas functions of the human being, therefore allow to the individual the process of retention and rescue of lived experiences. In a following phase, the reduction of the memory in the third age and the factors was analyzed the referring aspects that influence for this. To try to contradict or to strengthen what the theoreticians say on the subject, a research of together field to a population of 23 aged ones was made, through a questionnaire contends eight questions where they will be able to reveal its opinions. The conclusion pointed that the difficulty of memorization and retention is one of the problems that more affect the aged ones, but they do not feel themselves not motivated and come back to study because they need to conquer new chances of work.
Key-words: memory, difficulties, retention, aged, third age, theoreticians, research of field.


INTRODUÇÃO

     As transformações decorrentes do envelhecimento podem afetar a maneira com que cada indivíduo vive. Por sua vez, a manutenção da memória dos idosos em boa forma tem sido uma preocupação de grande prioridade para geriatras e gerontólogos. Por isso, a partir da década de 1980, surgiram na literatura várias tentativas de síntese sobre as principais observações envolvendo a memória e a aprendizagem durante o envelhecimento.
     Em razão destes aspectos, o presente artigo tem como tema a “Dificuldade de memorização e retenção na terceira idade”. O tema é relevante, pois permite-se conhecer como ocorre a diminuição da memória na terceira idade e os fatores que influem para isso, além do que, pode servir de referência para outros estudos que possam ser feitos sobre a matéria.
     O objetivo deste artigo é analisar a dificuldade de memorização e retenção na terceira idade, conhecendo-se também, alguns aspectos das principais funções da memória e o seu funcionamento na terceira idade.
     A metodologia adotada para este artigo foi a bibliográfica. Concomitantemente foi feita uma pesquisa de campo envolvendo uma população de 23 idosos, através de um questionário contendo oito questões sobre o assunto em tela.
     O artigo foi estruturado da seguinte forma:
a) primeiramente foi feito um estudo sobre a memória humana, abrangendo definições, as funções cognitivas e a divisão da memória;
b) estudos sobre a fase do envelhecimento e as influências sobre a memória;
c) pesquisa de campo com 23 idosos e interpretação dos resultados;
d) conclusão, que apontou os principais resultados da pesquisa.
A memória humana pode ser definida como a capacidade de modificar o comportamento em função de experiências anteriores, como se refere Abreu (2000). A memória pode manifestar-se de muitas formas, como a lembrança de um número de telefone, tomado de um catálogo enquanto a ligação é realizada, a lembrança das palavras de uma frase enquanto a mesma é compreendida, o uso de um espelho para pentear o cabelo, dentre outras.
     A memória é uma das funções cognitivas do ser humano. Em outras palavras, é o processo de retenção e de resgate de experiências vividas. As experiências lembradas atuam diretamente sobre o comportamento do ser humano, influenciando o processo de aprendizado, segundo Azevedo (2003).
Por isso, a memória consiste na aquisição, na gravação, na conservação e na evocação de informações. Nas palavras de Izquierdo (2002, p. 9): “somos aquilo que recordamos. Não podemos fazer aquilo que não sabemos como fazer, nem comunicar nada que desconheçamos”. Neste sentido, a memória desempenha um importante papel, pois se constitui num acervo das memórias do indivíduo, fazendo com que cada um seja aquilo que ele é, permitindo que ele não seja idêntico a outro indivíduo.
O passado, as memórias, os esquecimentos voluntários, não só dizem o que o indivíduo é, mas também, permitem projetar rumo ao futuro. O passado contém o acervo dos dados, o único que o indivíduo possui, o tesouro que o permite seguir a partir dele, atravessando o efêmero presente que se vive, segundo Izquierdo (2002).
No estado específico do idoso, a manutenção da memória em boa forma tem sido uma preocupação de alta prioridade para geriatras e gerontólogos, pois dentre outras coisas, ela ajuda a manter o idoso ativo e independente.
É na terceira idade que ocorre, na grande maioria das vezes, a diminuição da memória, pois há uma tendência a se ter dificuldade em reter fatos recentes com prejuízos das memórias imediata e intermediária.
     A terceira idade é uma etapa da vida que merece muita atenção seja por parte da sociedade, do governo e do próprio indivíduo que ao iniciar o processo de envelhecimento tende a se ver muitas vezes, negativamente no quadro de sua própria imagem.
Oliveira (1999) considera o marco referencial da terceira idade o de 65 anos, levando em conta a expectativa de vida e o início da aposentadoria. O mesmo autor destaca que o aspecto cronológico é um dos limites mais fortes e precisos para se delimitar o início da terceira idade, pois o processo de envelhecimento assume especificidades, papéis e significados distintos conforme a sociedade na qual o idoso está inserido.
Para Neri (1995), a velhice é uma experiência heterogênea que comporta ganhos e perdas e é determinada por um amplo espectro de variáveis em interação.
Por isso, o envelhecimento pode ser considerado como um dos estágios naturais do processo vital do ser humano e deve ser encarado como tal, sendo importante a criação de um modelo positivo de transformação e a conscientização de que todos são velhos em potencial.
Esta opinião é corroborada por Hayflick (1997) que descreve essas mudanças como normais e por isso, não são doenças, e sim alterações típicas que ocorrem no organismo à medida que se envelhece.
     O impacto da terceira idade faz com que o indivíduo vá alterando seus hábitos de vida e rotinas diárias. Neste sentido, pode ocorrer a decadência da capacidade funcional da estrutura física da pessoa, como também, a redução geral dos ritmos orgânicos e a capacidade de enfrentar estímulos externos. Por causa disso, o indivíduo passa a sofrer preconceitos, como a exclusão do meio produtivo e as perdas afetivas.
     Para Moragas (1997) o envelhecimento não se manifesta biologicamente homogêneo, por causa da variabilidade genética original e às diferenças das experiências vitais. Por isso, existe uma superposição das condições físicas e das experiências do indivíduo, o que deixa claro que não existe uma velhice semelhante entre duas pessoas diferentes organicamente.

EMBASAMENTO TEÓRICO

     a) Definições:
     A perda da memória pode estar associada com determinadas doenças neurológicas, como: distúrbios psicológicos, com problemas metabólicos e também com certas intoxicações.
Recorrendo a Cohen (2001), percebe-se que a perda de memória está associada à senilidade que ocasiona mudanças no afeto, na cognição, no caráter, no comportamento ou no discurso. Desse modo, “ficar fraco do cérebro”, na Índia, ou “ter doença de Alzheimer”, no Ocidente, seria um processo dialógico, envolvendo tanto o idoso, quanto o outro que o define como “diferente” ou “mudado”.
     Estados psicológicos alterados como o estresse, a ansiedade e a depressão podem também alterar a memória. Moragas (1997) alerta sobre algumas causas que acarretam a perda da memória, como: a) mudanças ou perdas das células cerebrais; b) fatores psicossociais: baixo nível de inteligência, falta de hábito de recordar, falta de motivação; c) não aprende porque dúvida da utilidade do que vai aprender.
Apesar de todas essas causas, pesquisas recentes demonstram que, contrariando a crença popular sobre a perda da memória no decorrer do tempo, isso não é inevitável e nem irreversível. A contínua atividade intelectual, como a leitura, exercícios de memória, palavras cruzadas e jogo de xadrez pode auxiliar a manutenção da memória, como também, a atividade física feita com regularidade e uma dieta saudável.
     Moragas (1997) acredita que a perda da memória pode ser evitada ou ao menos, adiada, através de mecanismos preventivos, como as regras mnemotécnicas, o prolongamento do processo de aprendizagem, utilização de material que estimule a pessoa, redução das interferências na aprendizagem, e principalmente, informando-se as pessoas de que a perda da memória é evitável e que elas possuem a capacidade de recordar em qualquer idade.
     Porém, existe um mito segundo o qual, na velhice, qualquer esquecimento está ligado à idade e é patológico. Fala-se mesmo que os idosos são “esclerosados”, uma alusão a seus esquecimentos e às suas confusões mentais, boa parte dos quais são muito parecidos com os que ocorrem com os mais jovens, mas que são superdimensionados quando se trata de idosos, justamente por causa do preconceito.
     Entretanto, o envelhecimento normal e o patológicos podem ser fenômenos que comportam gradação, pois as alterações normais e patológicas de memória variam muito de indivíduo para indivíduo, em função de fatores como saúde, estilo de vida, alimentação, atividades físicas, hábitos intelectuais, motivação e personalidade.
     Bertolucci (2000) lembra que uma parcela significativa de idosos apresenta alterações de brandas a moderadas na memória de envelhecimento normal. Já Deguinszajn (1998) descreve um estudo populacional realizado na Finlândia por Koivisto em 1995, cujos resultados demonstram prevalência de 40% de alterações leves e moderadas de memória relacionadas à idade entre 60 e 78 anos. Nesta pesquisa foram excluídas pessoas portadoras de doenças que poderiam causar distúrbios graves de memória.
     As alterações no envelhecimento normal e as diferenças individuais também variam na vida cotidiana e dependendo do contexto social, podem causar desgostos ao idoso.
     Contudo, elas podem ser reversíveis e podem ser prevenidas com treino e autocontrole. É importante observar o grau de estruturação do ambiente e as exigências do contexto no qual o idoso está inserido e onde deve realizar tarefas de memória.
     Abreu (2002) revela que muitos idosos podem não lembrar datas e compromissos porque não saem de casa ou porque não têm os hábitos de manter agenda e de olhar o calendário. Outros ficam confusos porque não têm estímulos para buscar atividades interessantes ou prazerosas.
     Por outro lado, alguns idosos mantêm uma excepcional força mental, excelente memória e realizam trabalhos criativos até o final da vida. Como exemplo disso, Canineu e Bastos (2002) citam que Verdi compôs Otello aos 73 anos de idade e Goethe escreveu a segunda parte de Fausto após os 70 anos de idade.
     Yassuda (2002) apresenta uma visão geral sobre o envelhecimento da memória humana:
a) memória sensorial: sofre alterações influenciadas pelo sistema sensorial, que sofre declínio em função do processo de envelhecimento;
b) memória de curto prazo, que subdivide-se em:
1. memória primária: manutenção passiva de poucos itens;
2. memória operacional: manutenção e processamento simultâneos.
Destas, a memória operacional é afetada pela idade, pois exige armazenagem e processamento simultâneos. O desempenho da memória operacional parece diminuir quando as pessoas tentam desempenhar mais de uma tarefa concomitantemente. Por sua vez, com a experiência acumulada, pessoas idosas desenvolvem estratégias que envolvem o pré-planejamento para o desempenho de ações que requerem memória operacional, o que alivia a carga atencional, possibilitando o desempenho adequado nessas condições.
c) Memória de longo prazo: envolve a manutenção de dados por longas períodos e subdivide-se em:
l. memória episódica (eventos específicos);
2. memória semântica: conhecimento;
3. memória explícita: memorização deliberada;
4. memória implícita: memorização sem consciência;
5. memória de procedimento: ativação automática.
Destas, as que influenciam mais no envelhecimento são: a memória episódica e a memória explícita. Esta última apresenta déficits significativos ao longo do envelhecimento, causando aos idosos maiores dificuldades com evocação livre, lembranças sem pistas, do que com o reconhecimento, lembranças com pistas, pois codificam a informação de maneira mais empobrecida. Quanto à memória episódica, Neri (2001) revela que, embora a quantidade de conhecimento semântico tende a aumentar com a idade, a velocidade e precisão do acesso a esse conhecimento diminui.
A memória de procedimento e a implícita declinam pouco com a idade e quando os déficits são encontrados, eles estão relacionados com a inabilidade das pessoas idosas em usar a memória explícita como auxiliar a memória implicita, conforme Parkin (1993).
     Como se observa, as alterações decorrentes da idade, afetam apenas alguns sistemas da memória. Porém, Damasceno (1993) revela que a capacidade de concentração e a atenção estão prejudicadas na velhice. A percepção exige mais esforço para o idoso porque os órgãos dos sentidos não funcionam com a mesma eficiência de antes. Em conseqüência, detalhes importantes da informação às vezes se perdem.
     A memória é uma importante função cognitiva do homem que se relaciona com outras funções cognitivas como linguagem e atenção. Atkinson et al (1995) descrevem que a memória desempenha um papel integrador, unificador e constitutivo em relação à experiência pessoal do indivíduo e à sua experiência sobre o mundo físico e social.
     Como se observa, a memória é um sistema tão complexo que permite ao ser humano codificar, armazenar e integrar informações provenientes de múltiplas fontes e usá-las para interpretar, organizar e iniciar a experiência, tanto sobre o mundo quanto sobre si mesmo.
Izquierdo (2002) fala que desde os dois ou três anos de idade os seres humanos utilizam a linguagem para adquirir, codificar, guardar ou evocar memórias, o que não acontece com as demais espécies animais. Entretanto, com exceção das áreas de linguagem, seres humanos e outros mamíferos usam as mesmas regiões do cérebro e os mesmos mecanismos moleculares para construir e para evocar memórias. A diferença está nos conteúdos e nas complexas articulações que os homens são capazes de fazer entre eles.
      Cognição é um termo empregado para descrever todo o funcionamento mental e que implica nas capacidades de pensar, lembrar, raciocinar, formar estruturas complexas de pensamento, decidir, resolver problemas e enfim, produzir respostas adaptativas às solicitações do ambiente.
As habilidades cognitivas são influenciadas por características pessoais, como idade, nível de escolaridade, interesses, saúde, atividades que o indivíduo desenvolve, quantidade de estímulos a que é exposto, além de aspectos psico-ecomocionais e sócio-culturais, como se refere Freitas et al. (2002).
Segundo Stoppe e Neto (1999) a memória se divide em três tipos ou sistemas. Um é a memória primária ou imediata, que tem uma reserva de capacidade limitada durante o tempo no qual a informação está sendo utilizada. Se a informação for repetida, será fixada. Outro é a memória secundária ou de fixação, que é responsável pelo armazenamento de informações recentes. O terceiro, é a memória terciária, que armazena as informações bem aprendidas, mais antigas e pessoais.

b) Base neurológica:
Para Neri (2001) as estruturas da memória seriam compatíveis ao hardware do computador e os processos representariam os softwares. Como um computador, postula-se que a memória humana tenha um processador executivo central, estruturas de arquivo, componentes para extrair informações, dentre outros.
Ainda que geralmente se pense que a memória seja armazenada em muitas regiões do córtex cerebral, diferentes tipos de memória são armazenados em diferentes porções do cérebro. A memória existe em duas formas principais, segundo Woong-Riley (2003):
a) memória explícita: está relacionada a fatos e ao aspecto o que do conhecimento;
b) memória implícita: envolve o aprendizado de como fazer coisas.
O lobo temporal medial dedica-se ao aprendizado e a memória explícita, incluindo o hipocampo, o córtex entorrinal, o subículo e os córtices para-hipocampais. O aprendizado e a memória implícita de habilidades de percepção e motoras têm uma qualidade automática ou reflexiva, sendo que a memória de uma tarefa específica envolve o sistema sensorial ou motor específico que aprende tais tarefas e armazena a informação aprendida, conforme Woong-Riley (2003).
Neste processo tão dinâmico do cérebro humano, experimentalistas desde W.James, em meados do século dezenove, até mais recentemente Lúria, Eric Kandel, relataram que dentro do sistema límbico existem estruturas encarregadas das emoções, dele fazendo parte componentes como: córtex temporal medial e anterior, órbito frontal e parietal posterior, hipotálamo, hipocampo, tálamo, amígdala e giro do símbolo.
     O cérebro humano é considerado uma acervo de experiências distribuído em andares, como se fosse uma biblioteca. Num dos andares, ficam as experiências ou lembranças antigas (longo prazo), fatos que ocorreram há muitos anos atrás. No outro, o depositário das lembranças ou registros mais recentes. O hipocampo é a porta de entrada para novas informações no cérebro humano. As lembranças antigas já foram transferidas para diferentes partes do córtex cerebral. Isso explica porque muitas pessoas idosas são capazes de recordar lembranças da infância, mas têm dificuldades de se lembrar de fatos recentes. A velocidade da fala ou dos movimentos do corpo tem haver com outra área do cérebro. É a chamada substância negra, que são dois pequenos pontos do tamanho de um grão de arroz. O envelhecimento anormal dessa área provoca uma doença àquela que acometeu o Papa, o Mal de Parkinson.      
     Todo o acervo da memória pode sofrer danos com a ação do tempo, mas já se sabe que algumas áreas envelhecem mais cedo que as outras, uma das áreas que perdem neurônios a partir dos 30 anos é o hipocampo.
     Pode-se dizer que não existe uma perda funcional do cérebro própria da idade. Existe sim, uma perda funcional do cérebro como existe a do pulmão ou do coração caracterizada ou dependente de doenças que precisam ser diagnosticadas e tratadas. Na tentativa de reverter esse quadro, os avanços da medicina de diagnóstico e da farmacologia, alimentação adequada, exercícios físicos é que ajudam a aumentar o ciclo vital. O ideal seria a adoção combinada de exercícios físicos regulares e de alimentação adequada, pobre em calorias animais e rica em vegetais e frutas, como também, a leitura de livros, os exercícios de raciocínio e de memória, que podem ser palavras cruzadas e quebra-cabeças, o convívio social e o hábito de uma boa conversa induzem à criaçãod e novas conexões entre os neurônios.
     Quanto ao uso de estratégias cognitivas, o idoso é menos cognitivo que o jovem. Salthouse (1991) relata que isso ocorre porque há uma morosidade nas operações de processos executivos responsáveis pelo controle e monitoramento de aspectos do sistema cognitivo, incluindo a seleção e execução de estratégias para o desempenho das tarefas cognitivas.
     Os aspectos ligados à cognição influenciam também a memória. Bandura (1981) revela que os idosos podem apresentar prejuízo no senso de auto-eficácia em relação à memória, por causa dos estereótipos negativos, segundo os quais todos os idosos têm problemas de memória. Crenças negativas sobre a possibilidade de ter bom desempenho em memória faz com que os idosos queixem-se freqüentemente de dificuldades de memória.
     Tung e Demétrio (2000) relatam que outros fatores não cognitivos influenciam o desempenho da memória, podendo atuar de forma isolada ou em conjunto, como: baixa motivação, problemas sensoriais, baixa auto-estima e baixa auto-eficácia percebida, pouca familiaridade ou ansiedade em relação à situação de teste, fadiga e depressão.

Metodologia

     A metodologia deste trabalho foi a pesquisa de campo, que consiste na observação dos fatos tal como ocorrem espontaneamente, segundo Oliveira (2002). Esta metodologia foi a mais indicada pois se enquadra no objetivo deste trabalho, que é o de analisar as dificuldades de memorização e retenção em indivíduos da terceira idade.
     Para realizar a pesquisa de campo, utilizou-se como instrumento, um questionário contendo oito perguntas referentes ao assunto em debate. As perguntas foram do tipo fechadas com respostas sugeridas, para facilitar a coleta.
     Os questionários foram aplicados em 23 idosos, com idade acima dos 65 anos, sendo seis do sexo masculino e dezessete do sexo feminino, escolhidos aleatoriamente junto à população de São José dos Pinhais. Os questionários foram respondidos em diversas salas de aula da Escola "x" em Curitiba. Foram mantidos em sigilo os nomes e outras informações dos entrevistados. Após efetuadas a aplicação dos questionários, procedeu-se a interpretação e discussão dos resultados à luz do referencial teórico.

Apresentação e Interpretação dos Resultados

     Para a interpretação dos resultados utilizou-se de percentuais para melhor compreensão dos dados.

Questão 1: O que o motivou a estudar novamente?
a) atividade extra: 2 com 9%
b) melhorar a situação financeira: 8 com 35%
c) auto-afirmação: 11 com 47%
d) Não responderam: 2 com 9%

Na questão 1 houve um destaque para a auto-afirmação com 47% do total, seguida da melhora da situação financeira com 35% e da atividade extraclasse, com 9% e dos que não responderam, também com 9%.
O gosto pelo estudo não escapou à motivação dos idosos. Certamente, eles estão cônscios de tal importância, pois à medida que as pessoas envelhecem, diminuem as oportunidades de trabalho e, conseqüentemente, a situação financeira. Desse modo, é mistér que os idosos estudem para se aperfeiçoarem e melhorar suas condições financeiras, além de sentirem-se úteis à sociedade, o que os mantém equilibrados.
É bom que se diga que o poder público está atento à educação continuada envolvendo os idosos. Oliveira (1999) cita que muitas escolas paranaenses abrem espaços para a terceira idade, buscando integrar aqueles que se encontram à margem do processo de desenvolvimento, exclusão convencionada à idade e porque não dizer, melhor qualidade de vida. Desse modo, os entrevistados desejam auto-afirmação, mais qualidade de vida e fugir da exclusão social.

Questão 2: Quais as dificuldades encontradas no decorrer do curso?
a) compreensão do texto: 12 com 52%
b) verbalizar: 1 com 5%
c) exposição pessoal: 8 com 35%
d) não respondeu: 2 com 8%
Na questão 2, a maioria dos entrevistados ou 52% deles, falaram que as principais dificuldades ocorrem pela não compreensão do texto, enquanto uma parte, ou 35% deles, acham que as principais dificuldades se referem a exposição pessoal. Quando falta a compreensão certamente isso prejudica a cognição.
Freitas et al. (2002) reconhecem que a cognição é influenciada com a idade avançada, ao lado do nível de escolaridade, interesses, saúde e outros. Por isso, fica claro que a falta de compreensão do texto, certamente ocorre pela idade dos entrevistados, ou também, pela falta de escolaridade.
Quanto às dificuldades acerca da exposição pessoal, isso pode ser entendido como uma limitação desses idosos. A falta de coragem para se expor, pode ser devido a pouca motivação. É importante lembrar as palavras de Oliveira (1999) que relata que a assimilação de novos conhecimentos, atitudes e hábitos pode ocorrer em qualquer idade, modificando unicamente a velocidade da assimilação. Isso significa que o idoso precisa ser respeitado em seu ritmo, e se ele não quer se expor, é conveniente que ele seja motivado para superar essa limitação de modo equilibrado e sem excessos.

Questão 3: Cite qual a sua maior dificuldade?
a) memorização: 17 com 74%
b) retenção: 3 com 13%
c) não respondeu: 3 com 13%
Nesta questão, 74% dos idosos responderam que possuem dificuldades de memorização. A perda de memória é comentada por Cohen (2001) que a associa à senilidade e Moragas (1997) que enumera algumas causas disso, como as mudanças ou perdas de células cerebrais, fatores psicossociais, baixo nível de inteligência, dentre outros.
Essas causas porém, não encerram a matéria, mas abrem espaço para uma reflexão: se os teóricos afirmam que a perda da memória não é irreversível ou inevitável, como fala Moragas (1997), é importante esclarecer que devem ser envidados esforços para alterar esse quadro, através do estímulo à ação, exercícios de memória, jogos de xadrez e outros que podem ser sugeridos pelos professores.


Questão 4: Você sofre de algum distúrbio como:
a) ansiedade: 7 com 30%
b) depressão: 2 com 9%
c) medo: 0
d) Outros: 12 responderam que não com 52%
e) Não responderam: 2 com 9%
Na questão 4, 52% responderam que não sofrem distúrbios, o que evidencia o bom estado físico dos inquiridos. Oliveira (1999) relata que a boa saúde dos idosos se deve ao desenvolvimento da medicina, da tecnologia aperfeiçoada e das melhorias das condições de vida, que diminuíram as doenças infecciosas e parasitárias, permitindo mais saúde aos velhos. Como se vê isso já pode ser visto na prática.
Quanto aos distúrbios de ansiedade com 30% e depressão, com 9%. Esses distúrbios possivelmente ocorrem porque os inquiridos não estão integrados à sociedade, ou mesmo, que suas experiências passadas foram coroadas de fracassos. Oliveira (1999) fala sobre isso, dizendo que ao envelhecer há uma tendência por parte da pessoa a ver-se negativamente no quadro de sua própria imagem, tornando-a cada vez menos positiva. Neste sentido, é preciso envidar esforços para conduzir o idoso a aceitar a velhice, para que não haja depressão, ansiedade ou insatisfação.

Questão 5: Acha difícil aprender uma nova atividade? (Ex.: usar computador, regras de um jogo, usar um novo aparelho).
a) sim: 11 com 48%
b) não: 12 com 52%
     Nesta questão 5, as respostas praticamente se igualaram, com uma leve predominância dos que não acham difícil aprender uma nova atividade. A aprendizagem de uma nova atividade parece não assustar muitos entrevistados, ou 52% deles. Moragas (1997) revela que os velhos podem aprender com facilidade e que sua motivação, é com freqüência, superior à das gerações jovens. Por isso, não admira que os 52% inquiridos acham fácil aprender alguma coisa nova.
     Quanto aos 48% que não acham fácil aprender alguma coisa nova, isso revela que eles têm pouca iniciativa e motivação para outras atividades.

Questão 6: Às vezes, posso não reconhecer lugares ou rostos de pessoas que eu já vi antes e já deveria estar familiarizado.
a) sim: 6 com 26%
b) não: 16 com 70%
c) não respondeu: 1 com 4%
Na questão acima, 70% responderam que não, o que vem ao encontro com o que diz Abreu (2002). Ele fala que muitos idosos não lembram datas e compromissos porque não saem de casa. O que vale dizer que essa maioria dos entrevistados não vive isolada e participa de sua comunidade.
Outras pessoas que esquecem dos lugares ou pessoas que já viram, é importante lembrá-las que a perda da memória é evitável e que elas possuem a capacidade de recordar desde que exercitem a memória, conforme Moragas (1997).

Questão 7: Freqüentemente me esqueço das coisas que fiz no dia anterior (acontecimentos, assuntos, etc.)
a) sim: 12 com 52%
b) não: 11 com 48%
O esquecimento rápido acometeu 52% dos entrevistados e 48% acham que isto não acontece. Em certa parte isto é confirmado por Moragas (1997). Ele acha que os idosos tendem a se lembrar de fatos mais distantes do que os próximos, o que foi confirmado pela pesquisa. Contudo, os 48% restantes que responderam “não”, é compreensível que alguns idosos não esqueçam o que fizeram no dia anterior, por força de hábito, ou porque algumas capacidades de memorização do idoso não sofreu redução, especialmente a memória rápida como fala Moragas (1997).

Questão 8: Às vezes acho um filme na TV ou notícia no jornal difíceis de acompanhar.
a) sim: 5 com 22%
b) não: 17 com 74%
c) Não respondeu: 1
A maioria dos entrevistados (74%) não encontra dificuldades em acompanhar um filme na TV ou notícia no jornal, mas um percentual de 22% possuem certas dificuldades. Isso deixa claro que muitos idosos já estão familiarizados e adaptados à televisão e acompanham com facilidade o que é apresentado. Essa facilidade pode trazer muitas transformações para o idoso, gerando autoconfiança, satisfação, bem estar psicológico e até, interação social, pois o idoso aprenderá novas maneiras de se comportar, de estabelecer contatos com outras pessoas, dentre outras. Quanto aos que tem difículdades em acompanhar notícias ou filmes, isso é bastante lamentável, pois revela um despreparo ou a falta de condições psicológicas para isso. É fundamental que os idosos aprendam a apreciar a televisão como um meio de sua atualização com o que está acontecendo, seja através de notícias, filmes ou outra categoria de programação.


CONCLUSÃO

     A maioria dos idosos entrevistados possuem dificuldades de memorização, que são em parte devido à senilidade ou a perdas de células cerebrais, baixo nível de inteligência, dentre outros. Contudo, como essa condição não é irreversível ou inevitável devem ser envidados esforços para que se mude esse cenário, através de atividades de estímulo à ação, exercícios de memória, jogos de xadrez e outros.
     Mesmo com esses problemas de memorização, os idosos em estudo, foram motivados para estudar novamente, pois desejam uma auto-afirmação ou melhorar as suas condições financeiras. Outrossim, os idosos inquiridos não compreendem os textos que lhes são apresentados e muitos deles não têm motivação para aprender. Embora a assimilação de novos conhecimentos pode ocorrer em qualquer idade, é preciso respeitar o ritmo do idoso e nem forçá-lo a se expor, pois eles já possuem muitas limitações por causa da idade.
     Um dos aspectos positivos que a pesquisa revelou, foi que mais da metade dos idosos não sofrem de distúrbios, sendo que uma percentagem menor sofre de ansiedade e depressão. A ansiedade ou depressão pode ocorrer por falta de ambientação da sua própria idade, como o ver-se negativamente no quadro de sua própria imagem.
     O esquecimento de fatos recentes foi evidenciável em pouco mais da metade dos entrevistados vem a corroborar com os teóricos.
     O que mais chamou a atenção foi que os inquiridos têm dificuldades de memorização e retenção, mas não se mostram apáticos com isso e estão procurando novas atividades. Por isso, no espaço de reestruturação da visão social da velhice, a postura assumida pelos idosos pode ser considerada como determinante, mostrando que eles têm destaque no processo. A educação, o planejamento para o envelhecimento e a prática de exercícios adequados podem servir de estímulo. Não se deve esquecer que chegar à velhice deve ser encarado como um compromisso social para incentivar os que a ela chegam e por isso, é preciso que os idosos se organizem e possibilitem a sua organização em torno de seus interesses básicos, com o apoio da sociedade, que não deve ser omissa.



REFERÊNCIAS


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ATKINSON, R.L. et al. Introdução à Psicologia. Porto Alegre: Artmed, 1995.

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Biografia:
Sou pesquisador científico há vários anos e possuo conhecimento sobre diversas áreas.
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