Da dor posso falar.
Ela caminha em meu corpo
e tritura minha alma.
Sei o que é dor.
Rasga, dói, mastiga o espírito,
moendo-o até transformá-lo em pó.
Ou resma de pó.
E depois o vento sopra e leva o pó
a cair sobre os espinhos,
sobre as brasas do fogo
que queima sem dó
nem piedade quem invade
a vaga floresta.
E lá a dor é aquecida para ser
depurada, transformada em sangue
e mergulhar mais uma vez
para dentro de mim,
queimando, marcando
como se marca o gado no campo.
E viro dona de ninguém.
Nem de mim.
Marcada pelo fogo do
dono do tempo como sua,
para sempre sofrer,
a dor de não ter,
a dor da espera do tudo,
do nada que nunca tive...
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