QUANDO A PALAVRA EXISTIA
Eu venho destes caminhos
Onde a palavra existia;
Vigorava entre os iguais
E era sinal de valha.
Por simples ensinamento
Ou por razão de respeito,
Somente digo o que sinto
Sob os espelhos do jeito.
A palavra é muito forte
Pra ser dita sem demoras;
E perde o total sentido
Quando é da boca pra fora.
Neste tempo onde é comum
Usar o tom da palavra
Para iludir a confiança
Que, há muito, já se entregava.
Quando a palavra existia
Todo real sentimento
Revelava, desde a alma
Sua pureza nos ventos.
Quisera o mundo tivesse
A clareza em própria luz,
Pois o escuro da mentira
À nenhum rumo conduz.
Se o coração esvair
Toda mágoa pela lágrima
- Feito um livro que liberta
A tristeza das suas páginas -
Contará que a cruz cravada
Sobre o ombro de um irmão,
Voltará com peso em dobro
Pondo o que deve no chão.
Minha palavra eu resguardo...
...tem moradia em meu peito!
Não há motivos, nem ânsias
Para apressar o seu feito.
- Perdida na encruzilhada
Que guia passos descalços,
É feito o que resta em vão
No abrigo de um poncho falso
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