O famigerado “gato” da delegacia
A palavra gato, do latim cattu(m), que servia para indicar, originalmente, um "tipo de felino" de pequenas dimensões; como este felino tem o hábito de andar silenciosamente e furtivamente, a palavra gato adquiriu, por um processo metonímico de associação entre o modo de andar de um ladrão e de um gato, o sentido de "ladrão, gatuno". No entanto o que vai interessar aqui é a ideia de gato como ladrão associada ao fato de que o felino gosta de escalar postes e fios, levando ao surgimento de mais um novo sentido para essa palavra: “instrumento para roubar energia elétrica dos fios ou postes, e, por analogia, outras coisas com valor econômico”. Dentre elas: o famigerado gato de água da delegacia.
A conta não batia. Um banheiro sem chuveiro, uma pia com uma torneira deca antivazamento e uma descarga inteligente que guardava em seu compartimento cinco litros de água. Dizia a delegada: 30 metros cúbicos é muito para um investigador e um escrivão gastarem em trinta dias. Chame os técnicos da Embasa, para analisar o medidor, deve estar com defeito. A equipe da embasa chega, faz todo tipo de análise, mas nada de irregular fora encontrado no medidor da 34° delegacia da cidade do Pará. Mais um mês se finda e mais uma conta de água chega à delegacia da cidade do Pará. Ao abrir a conta, a delegada assusta-se. O consumo do mês atual supera o mês anterior, com 35 metros cúbicos de água. Delegada, investigador e escrivão entreolham-se sem saber como gastaram 35 mil litros de água em 30 dias. Não é possível, dizia a delegada. Deve haver algo de errado nesse encanamento. De fato havia. Certo dia observando o lado esquerdo da delegacia, o agente investigador percebera um espaço de mais ou menos 40 centímetros que separava a delegacia e uma casa vizinha, no entanto durante o dia não havia ninguém nessa casa. Perguntado aos moradores quem morava ou o que funcionava naquela casa, alguns moradores que não quiseram se identificar, disseram que o proprietário só chega à noite, isto é, após o fechamento da delegacia. Não satisfeito, o investigador observara que na caixa da embasa onde fica o medidor, nada mais havia, além das pucumãs. Aquilo encucou o agente. O horário do expediente termina, no entanto ao invés de ir pra casa o investigador fica a observar em uma casa em frente o que se passa após seu expediente. De repente, quando a tranquilidade já pairava sobre a rua, chega um carro com carroceria, e estaciona em frente à referida casa. E em cima havia mais ou menos cinco trouxas de roupas sujas. Ao abrirem portas e janelas da casa suspeita, o investigador observou que havia em seu interior três máquinas de lavar roupas. O fluxo de roupas lançadas à máquina era intenso. Para o investigador ali estava chance de um flagrante delito tipificado. De imediato, solicita reforço da PM que ao ser acionada desloca ao local indicado. O investigador e os PMs adentram a casa. Uma das pessoas que se encontrava no interior da casa tenta evadir pelos fundos, e, sem êxito é contido por um dos PMs. Perguntado de onde é que vem a água que ele utiliza para lavar as roupas, um rapaz responde: de um poço, senhor. Verificando se havia algum poço ou cisterna, o investigador nada encontra. No entanto, verificando o espaço que separava a delegacia e a casa, o investigador observa o cano de água da delegacia, e nesse cano um entroncamento com outro cano que se direcionava para a casa onde funcionava a lavanderia. Enfim, estava ali solucionado o famigerado “gato” 34ª delegacia do Pará. Entretanto, os envolvidos não precisaram ser conduzidos no xadrez da viatura, afinal o delito acontecera ao lado onde eles iam ficar detidos.
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