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QUE INGRATA CONFRONTAÇÃO
FRANCISCO MEDEIROS QUARTA

QUE INGRATA CONFORMAÇÃO     

Vai sufocar-me a tortura
De viver sempre ao teu lado!
Porquê’ essa formosura
Conquistou minha ternura,
Fez-me sonhar… acordado!

A tristeza que se encerra
Neste pobre coração,
Destrói mais que a feia guerra:
Meus lindos sonhos desterra
Em fúnebre decepção!

Virei ave, sem abrigo,
Que anda no mundo, perdida!
Resistir mais, não consigo!
Por não medir o perigo,
Destrocei a minha vida!

Pensei na felicidade,
Sem olhar ao dissabor.
Que funesta ingenuidade!
Era simples amizade
A resposta ao meu amor!

Projectei, entre carinhos,
Fazer-te mulher ditosa,
Em pedregosos caminhos,
Rasgando-me nos espinhos,
Jamais colherei a rosa!...

Para que fui eu nascer,
Se é sem remédio esta dor?
Ti podes lá entender
A força deste sofrer,
O que são penas de amor!...

Essa imagem graciosa,
Que já se afasta de mim…
Separação dolorosa!
Que dor amarga e penosa,
Com princípio, mas… sem fim!

Coração amargurado,
Resta-te a resignação!
Imprudente, aniquilado…
Essa falta de cuidado
Foi a tua perdição!

Que fraqueza! Que ilusões
Se apoderaram de ti!
Como aceitas tais acções?
Das tuas lamentações,
Ela, com outro, só ri…

Conseguirás enfrentar
Tal escárnio? Francamente!
O quê? Irás perdoar?!
Em vez de te revoltar?
Que despudor! Estás doente!...

Maleitas do coração,
Ninguém as pode curar!
Ultrapassam a razão,
Trazem tanta decepção…
Gostam de martirizar!...

Que ganhas em ser tirano,
Amor, se sabes tão bem?
Dás a cada ser humano
Ventura, paz, desengano…
Ris a todos e a ninguém…

Aproxima-se a partida;
Já lá vem o sofrimento!
Vais deixar-me, sem guarida,
Dar a outro a tua vida,
Para meu maior tormento!

Perder o que há de melhor,
Neste vale de amargura…
Mas, vem, sol consolador;
Vem beijar aquela flor
Que foi minha desventura!

Traz-lhe tanta regalia,
Que ela canse de sorrir.
O vê-la feliz, seria
Transformar em alegria
A dor, para resistir…

Já nem passam na garganta
Os meus soluços, querida!
Sufoquei! A dor é tanta,
Que morro, e ninguém se espanta,
De saudades, à partida!...

Mas resisto! Quem diria!
Um barco nos apartou!
Sem a tua companhia,
Calvário é meu dia a dia;
O martírio começou!...

Dolorosa comoção
Que me faz falar assim!
Que ingrata conformação!
Resta-me a conformação
De te ver feliz… sem mim!...


Este texto é administrado por: ANTÓNIO MANUEL FONTES CAMBETA
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