O ESVOAÇAR DO PENSAMENTO
Vence a voz da teimosia:
Quem manda e pode, anuncia
Nova mudança de horário.
Permanecendo pigmeus,
Sejamos mais europeus,
Em tudo; até no salário!
E os que não tiverem carros,
Nesta terra de cagarros,
Que importa andar às escuras?
Tão eficaz segurança
Que temos, com a mudança,
Vai trazer mais aventuras…
Quem ressonar, lá na escola,
Desperte, jogando à bola,
Se enxergar o camarada.
E, na vida de morcego,
Cruzando-se com um cego,
Sujeita-se à bengalada…
Como a criminalidade,
Nesta santa liberdade,
Já não afecta ninguém,
Que se espalhe a vilania,
Sufocando, em agonia,
Os defensores do Bem…
Vão-se as conversas, nos lares,
Que os serões familiares
São para a televisão.
Os pais são postos de lado,
Pois cada filho, criado,
Virou doutor, sabichão!
Tão grotesco, no começo,
Oh, mundo, esse teu progresso
Quer fazer-te um suicida!
Ganâncias geram rancor;
E os que mais pregam o amor,
Mais nos torturam a vida!
Que fazer, nesta anarquia?
De carteira mais vazia,
Em cada dia que passa?
Integrados ou sozinhos,
Somos sempre uns coitadinhos:
Milagres? Não há quem faça!
Nesta amálgama brutal,
Ao sabor do vendaval,
Quem atinge a salvação?
Jamais haverá quem torça
A maldita lei da força!
Foi sempre um mito, a razão!...
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