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Texto selecionado
ANJOS |
VALTENCIR EVANGELISTA PIRES |
Resumo: TEXTO LIVRE, COM CARACTERISTICAS DE POEMA / POESIA, SEM APEGO ÀS NORMAS TÉCNICAS / ESTÉTICAS, VISANDO SOMENTE A EXPRESSÃO ARTÍSTICA. |
Pés órfãos passeiam no vazio da praça
Ainda está escuro
A chuva fina não para há dias
Pequenas mãos tremem de frio
Uma segura a lata de cola
Outra, um canivete
O canivete sangra
Longe do Anjo adormecido
Não mais dono da cola
O Anjo matador
Resolve ir para casa
Mas não tem pressa
Afinal não há casa alguma
Não sabe as horas, nem a data
Necessidade somente dos ocupados
E neuróticos ocupantes da praça
Agora não tão vazia
A chuva passa
Chega o sol
Um cheiro estranho
Entorpece o Anjo molhado
O calor do corpo
Seca vagarosamente
Mais um dia
As asas do esqueleto do Anjo
A boca ressecada
Mergulha no vapor
Diabólico e arrasador da lata
Presente do Demônio
Ao Anjo desavisado
E novamente um cheiro estranho
Agora vindo de toda a praça
Acorda o estômago do Anjo
O olhar do Anjo faminto
Percorre toda a Praça
Mas nada cai
Nada é jogado
Ninguém o percebe
Ainda sobrou a cola
Observando as crianças no parque
O Anjo solitário
Não sabe
Mas está triste
Não brinca há anos
Sequer lembra de algum dia
Ou se algum outro Anjo
Brincou com ele
O Anjo rejeitado
Pela protetora dos Anjos
Observa imóvel e isolado
Ao alegre e inocente
Voo dos Anjos de família
Todos se divertem
Aos olhos vigilantes
Dos guardiões da ordem
Que desconfiados
Afastam, com violência
O Anjo invejoso
Para longe dos olhos
E do coração
Da grande família de Anjos
Os pés órfãos deixam a praça
A caminho de lugar nenhum
Uma voz pesada
Detém o Anjo desprotegido
Que reconhece as armaduras
E num voo de salvação
Mesmo sem direção
Foge das vozes
E dos trovões da morte
Mas o Anjo desarmado é alcançado
Pelo pequeno metal do inferno
Que corta implacável os céus
Para encontrar o Anjo perfurado
O Anjo sangrando ainda vive
As armaduras contemplam
Indiferentes e sem pressa
Ao chamado do Dono dos Anjos
No chão agora vermelho
As asas imóveis e frias
De mais um Anjo eliminado
Numa mão, um pedaço de pão
Na outra, o inútil canivete
Outro Anjo chega na praça...
®Valtencir – mar_1997
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Biografia: - |
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