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Aparição
Caio Tadeu de Moraes

Dois jovens andavam cambaleantes pela rua. Estavam drogados e eufóricos, completamente foras de si. Tratava-se de Santos e Francis, dois velhos conhecidos dos bens públicos da região, em mais uma noitada de fim de semana. Entre alguns atos de vandalismo, risadas e frases sem sentido, se depararam com algo incomum quando rodeavam a rua do cemitério. O local estava naturalmente deserto, e a iluminação precária dos postes falhava como se estivessem com algum problema na fiação.
Até ai tudo bem, a prefeitura nunca deu muita importância á aquela região; mas havia algo estranho, bizarro, que fugia completamente do contexto da paisagem e da razão de nossos protagonistas. Na frente do portão principal, bem no meio da rua, uma forma desconhecida observava os dois aventureiros. Suas mentes estavam sobre efeito, e demorou um pouco para notarem a terceira presença.
Uma espécie de grande ave, um pouco maior que um avestruz, caminhava sobre o asfalto desgastado, os encarando com um olhar petrificante, que brilhava como o fogo de um incêndio. Á primeira vista, pareciam estar cara-a-cara com uma figura mitológica. Sua penagem era escura, quase se camuflando na ausência de luz; tinha um aterrador bico de ferro, com formas similares as das aves de rapina, que certamente poderia causar um estrondoso dano em almas mortais; seu corpo lembrava um corvo, e pássaros do gênero, deixando um rastro de penas negras por onde passava; suas pernas eram curtas, o que explicava seus movimentos lentos e desajustados; correntes pesadas enferrujavam contra a sua carne, complementando um ruído enlouquecedor ao gemido de seus passos. Uma crista cor de sangue finalizava aquela monstruosa visão, arcante como uma coroa em sua cabeça.
Definitivamente, era algo que não dava para ignorar.
- Santos, você está vendo aquilo? – disse Francis, com o tom de voz mais baixo que conseguiu fazer.
- Ah, não esquenta com isso. Deve ser apenas uma alucinação.
- Para de ser idiota, é impossível duas pessoas terem a mesma alucinação ao mesmo tempo.
- Tá, então como você explica o nosso amiguinho ali na frente. Vai dizer que é uma nova espécie de ave ainda não catalogada pela Ciência...
- Não, só estou dizendo que pensar naquilo como uma alucinação seria a mesma coisa que ignorá-lo – explicou - mas não podemos deixar de lado o fato que aquele animal talvez possa representar uma possível ameaça para nossas vidas. Dê um molhada naquele bico, me dá calafrios só de olhar, e talvez não seja só impressão.
- É, pode crê. Parece até alguma criação desses escritores de horror perturbados que tiveram uma infância difícil.
- Entende o que eu quero dizer?
- Hum... Sim, acho que capitei sua linha de pensamento. Então, o que sugere?
- Bom, acho que o melhor a fazermos é dar meia volta e achar outro caminho para chegarmos ao nosso destino.
Santos o encara com olhos de desaprovamento:
- Enlouqueceu?... Essa é a única rua que não é rota de polícia em todo o bairro. Os alemães morrem de medo do cemitério, parece até gente do interior. Se nós fomos por qualquer outro caminho, eles vão notar que estamos “alterados” e vão nos parar sem pensar duas vezes. Você quer chegar na balada quando? Semana que vêm? ...
- Santos, pelo menos uma vez na sua vida, escute o seu instinto de auto-preservação. Quer morrer por nada?
Santos ignorou o aviso e continuou em frente.
- O.K., esqueci que você é um suicida em potencial. Bom tudo que eu posso dizer é boa sorte... Nós vemos no seu funeral, ou na sala de identificação de corpos... Até lá.
Santos continuou andando, seguindo reto pela rua. Não tarda, a criatura parece se interessar pelo recém-chegado, e também segue em sua direção. Toda coragem de Santos se esvai em segundos:
- Corre!
Os dois correm como nunca tinham corrido em toda a vida. Atravessam quatro quarteirões em menos de um minuto. Francis olha rapidamente por trás do ombro para ver se já estavam seguros, mas a criatura não saia de seu encalço, e se preparava para levantar vôo. A ave emitia um gruído infernal, que cortava o ar penetrando profundamente em seus ouvidos, até o cérebro, alfinetando-lhes com uma dor aguda. “O chamado da morte”. A racionalidade de Santos se ia com o vento, e uma grotesca imagem surge em sua mente: seu corpo, debruçado na calçada, com os órgãos internos á mostra e o perseguidor emplumado se banqueteando com suas entranhas. O pensamento encravou forte e ele não conseguia pensar em outra coisa.
Correram, correram e correram. Atravessaram todo o bairro. Acabou por serem pegos por alguns policiais que estavam de ronda. Eles contaram o ocorrido, e juraram de corpo e alma que era verdade. No relatório, foi declaro que o pássaro era “um efeito colateral dado ao uso abusivo de drogas, destruindo a mente e causando experiências além da sanidade mental”. Usando Santos e Francis como exemplo, a prefeitura iniciou uma forte campanha contra as drogas, o que acabou sendo um fracasso, já que “os adolescentes tem uma necessidade natural em explorar o desconhecido e vivenciar experiências inéditas e excitantes, sendo que a história dos dois jovens e sua ‘visão’ no cemitério apenas serviria como carro-chefe para atiçar a curiosidade alheira e levar outros a experimentar a sensação por conta própria”, explica um conhecido jornal da região em uma matéria de capa. As mortalidades causadas pelo uso de drogas, entre acidentes de carro, vandalismo e overdoses, aumentaram drasticamente, chegando até um pequeno genocídio. Nunca se soube se a assombração da rua do cemitério era real ou apenas fruto da imaginação de mentes corrompidas.


Biografia:
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