Meu amor, sou a calçada,
Não te espantes se assim escrevo,
Ainda não enlouqueci.
Isso mesmo, sou o cansaço, amor.
Daqui debaixo, olho a todos,
A plateia, o coro, o gozo,
O espetáculo dos artistas,
Ouço as histórias de camarim,
Sou aquele que fecha as cortinas.
Meu amor, eu sou aquele copo com resto,
Aquele guardanapo amassado,
Sou as meias fedorentas,
Após um dia de trabalho.
Meu amor, eu sou o depois.
O beijo de despedida sou eu,
O beijo sem saudade,
-Mas existe beijo sem saudade? ,
Sou a despedida pro nunca,
Adeus profundo.
O passaro que voa,
Ninguém o vê,
Meu Deus!
- Já venho amor,
O cachorro está roendo a camisa,
Ainda alguém gosta de mim.
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