Agora eu te queria como vizinho ao lado. Bastava eu sair de casa e encontrar tua porta entreaberta, para gritar: “ alguém em casa ?”. Responderias “ entra logo cara” .Estarias na cozinha esquentando a água para o café. Beberíamos juntos e depois acenderias teu cigarro. Eu já não fumo há vários anos e, tenho que confessar, o cheiro do tabaco me irrita. Fico pensando como consegui vestir aquele perfume (?) por tanto tempo. Mas a casa é tua, não devo reclamar.
E então ? Vamos relatar ou não o que aconteceu na noite anterior? Na minha, nada de mencionável. Na tua , com certeza, uma série de situações alegres, pitorescas, perigosas e dignas de exames a comentar a dois ou com multidões.
No fundo, parece que invejo essa sucessão de acontecimentos que te acompanha. Até mesmo quando foste assaltado por aquele garoto, que te ameaçou com um revolver da Estrela.
Mas quando, na solidão do meu quarto, examino a vida que me foi entregue, para que eu a conduzisse sob minha responsabilidade, minha escolha recai sobre a que levo. Sem grandes emoções, mas sem sobressaltos.
Talvez, somente agora, eu tivesse descoberto o glorioso da simplicidade.
Rio, 01/07/2018
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