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O mal do século
Tristeza em demasia
Larissa Ribeiro Santos

Sabe o que é arrebatador?
Se dar conta, que voce se sente triste a tanto tempo que mal consegue lembrar direito de uma epóca em que estava completamente bem consigo mesmo.

Não, por favor, não me julgue, não me coloque em um estereótipo de adolescente entediado, me prometeram quando criança que seria divertido, e bem, eu não me divirto desde que era criança, me prometeram grandes amigos, prometeram grandes festas e experiências novas, prometeram momentos de tirar o fôlego.
Pessoas das promessas, eu perdoo vocês, eu também não esperava ficar desse jeito.

Não venha me dizer que é frescura, não me diga que é apenas por que eu quero, não me condene com suas críticas por algo que você não sabe como é.
Porque você não sabe como é...

E nunca quis ser uma criança gordinha, nunca pedi para me chamarem de nomes, nunca quis me sentir mal sobre, nem nunca quis pessoas cruéis me dizendo para ser bonita. Me desculpe se fui tão impressionável, cresci com a ideia de um padrão de beleza, que eu não tinha, comparando-me aos outros, odiando cada "defeito", não queria uma prima má para me deixar para baixo com seus comentários desnecessários, muito menos para faze-los em frente à meus amigos.
Eu não queria ter visto, mas eu vi, e foi um choque tão grande, percebi cedo demais, que as pessoas são más, que vão te fazer se sentir mal, só para se sentirem superiores, que elas vão te trair quando você mais confiar nelas, que vão tentar tirar o que é seu só por vontade, que elas são desonestas, cruéis e manipuladoras. Eu costumava falar que as pessoas roubaram minhas cores, agora eu vejo que fui perdendo elas aos pouquinhos.
Eu me cortei quando tinha 11 anos, eu achava que estava ajudando uma amiga que se cortava, eu queria mostrar a ele o quão ruim é ver alguém que você gosta se machucando, mas adivinha, ela não se importou muito, sei que minha mãe descobriu, ela ficou brava comigo, ela não perguntou se eu estava bem, foi estranho.
Começou aos poucos, desânimo, indiferença, tristeza, falta de apetite... e eu não entendia o porque.

Pessoas: "porque o desânimo menina? Você só tem 12 anos, se anima" A nessa época eu gostei de um garoto, mas ele não se interessava por mim, queria minha colega, acho que não era bonita o suficiente, ter desânimo e as coisas simples começarem a perder a importância, talvez não fosse muito normal.
13 anos e de volta a antiga escola, minha melhor amiga fez novos amigos, não me adaptei muito bem as novas pessoas, as antigas estavam meio diferentes. Eu não queria piorar, não queria sentir enjoada de mim, irritar meus pais para fazer luzes coloridas no cabelo faz parte de ser uma adolescente normal pelo menos, começar a perder muito peso, não, não foi uma época de boas decisões, mas eu nem sabia mais o que eram boas decisões.

Pensar demais pode nem sempre ser bom, mas por favor não diga que é só ter parado, os sentimentos ruins são como uma segunda consciência que vai tomando o lugar da antiga.

"14 anos, esta se tornando uma jovem bonita, hein", "você está ficando tão magra!" " porque você não sai com seus amigos?"
Não me chame de preguiçosa, eu só não tinha ânimo de sair da cama, e sentia culpa por achar que estava desperdiçando minha adolescência, não tinha motivo para comer, não tinha graça sair, não tinha sentido tentar..
Parecia e sentia tudo errado, "Oh meu deus, pessoas me olhando!!" devem pensar que só falo besteira. Então me perdoe por vestir uma armadura, ás vezes era real, ás vezes a indiferença era absurdamente vazia, o peso de tudo, é tão fodidamente grande, é opressor, você quer gritar, correr, chorar, quer fazer algo que tire a dor de dentro de você, você quer algo que te faça se sentir real, vivo, no presente, e não preso se perdendo na sua cabeça. E está tudo na sua cabeça!!! Talvez meter uma bala não seja uma ideia tão absurda afinal. As pessoas dizem para destruir o que te destrói, mas e se o que te destrói é você mesmo?

É vai me julgar de novo, mas eu fiz, me arrependo, pois se cortar não é a solução, não ajuda em nada. Minha coxa ainda está aqui marcada e toda vez que vejo é um lembrete do quão o caos te afeta. A mas meus pais não poderiam sabe, ninguém poderia saber! Então eu escondi, escondo em calças, mesmo no calor, escondo em meia-arrastão, em longos vestidos, escondo minha depressão, eu me escondo.

"Eu e seu pai achamos que você não gosta da gente" As palavras mais horríveis que meus pais me disseram, mas como eu poderia explicar à eles?
Me perdoem por ser tão grossa, fria, indiferente, por não lhes valorizar. Alguém ai me ensina como dizer "eu te amo" novamente, porque as palavras não saem da minha boca e eu não entendo porquê. Já menti tanto e não queria, mas eu não podia dizer a eles onde ia e com quem ia, não eram coisas que eles iriam querer saber, muito menos que aprovariam, mas eu precisava me distrair. Você vê em filmes pais que não confiam em seus filhos e acha aquilo normal, mas na realidade, ver seus pais ficando paranoicos com cada movimento seu, não é normal, nem saudável, mas até então nada saudável acontecia mesmo.

O pior momento de todos da depressão é quando você não consegue mais se imaginar sem ele, é quando você se perde, e se da conta que tudo o que você é, não é nem uma fagulha do que costumava ser.

Não eu não via prazer nenhum em desapontar as pessoas, em não ser mais a filha de ouro, em não ir bem na escola, em ser crítica, grossa e pessimista sobre tudo o que falam. Eu não esperava me encontrar uma bissexual em uma família preconceituosa, não é nada legal sua família achar que você é uma pessoa mas na verdade é completamente diferente, muito menos alguém que eles não gostariam de conhecer, uma vez minha mãe me disse que eu achava que o mundo era colorido e que eu viva em um mundinho, ela estava tão enganada, e quando tentava explicar que eu era cinza, ela não acreditava, e muito menos enxergava o quão desesperadamente queria ajuda. Por favor não me dê um novo celular, me dê uma caixa de Rivotril.

Estranho como as vezes eu me sentia melhor, nunca durava muito tempo. Escola, vida social, problemas familiares, futuro, amigos, aparência, tudo isso já é difícil de lidar, acrescente depressão e você se encontra "vivendo" umas vida falsa, por que nada se sente real, e você se questiona o tempo todo se faria as mesmas decisões se não estivesse se sentindo tão à parte do mundo.

A culpa, puta merda, a culpa é enorme.

Por favor, parem de confundir minha insegurança com antipatia, não eu não sou metida e nem me acho boa demais para sua festa ou para ser sua amiga, tem um peso enorme de ansiedade, desânimo e insegurança, me segurando para que eu fique em minha cama.
"Não, eu não quero ir a festa de família, todos ficam me olhando como se fosse um tipo de animal selvagem que vai atacar ou correr com o primeiro movimento brusco" Mas eu não vou te dizer isso pais, eu sinto que magoo a todos por não ser mais a pessoa que eu era. Eu queria poder voltar no tempo e ser mais forte no começo.

Já me disseram que tenho de tudo para ser feliz, uma casa, família, saúde, amigos, beleza. Então me explique por que sou triste, me explique porque me sinto tão doente, tão cansada o tempo todo, porque eu sinto que cada passo eu caio, e porque respirar se tornou se afogar, me diz porque não consigo fazer novos amigos, o porque falar com pessoas se tornou tão difícil e assustador, me diga porque não consigo abraças meus pais e porque minha única sensação de conforto resumiu-se à minha cama, e porque eu vejo beleza em todos menos em mim?

Um lado bom de ser da geração da tecnologia é poder usa-la como desculpa para evitar o mundo, em vez de ter que admitir que você não consegue vive-lo.

A geração e realidade em que vivo, nós não fazemos festas quando ficamos sozinhos, com a casa só pra gente, nós choramos tudo o que nós não dizemos e que tanto nos consome.

15 anos, eu conheci alguém que era um pouco destorcido como eu, foi meu ano de instabilidade, nada permanecia o mesmo muito tempo, e por muito tempo digo segundos. É um pouco engraçado a sensação de que está perdendo a cabeça pra valer, da vontade de perder a consciência só para você não estar ali presenciando tudo. Um pouco de bebida, um pouco de cigarro, tudo para te tirar do presente, mas as drogas que você realmente precisa são as prescritas pelo médico.

E eu tenho noção disso, de que preciso de ajuda, 16 anos e ninguém nem desconfia, as vezes eu acho que deveria ser atriz, às vezes eu acho que deveria para de me mascarar, para que alguém talvez perceba, e diga algo.
E porque eu não digo algo? Porque não dizer? "é tão simples" vocês dizem..

E eu te digo porquê. A ideia de olhar alguém que amo nos olhos e dizer que não sei mais quem sou, que eu me sinto perdida, triste, agoniada, vazia, sufocada como se tivesse 1 milhão de vazios em mim, que eu me sinto tão insegura e culpada o tempo todo e que tenho um medo absurdo dos meus pensamentos, e mágoa por ninguém notar.
Eu tremo, minha garganta fecha, a sensação de bomba-relógio no peito se instala, e eu não consigo dizer a ninguém o que sinto..

E eu sinto muito.


Biografia:
apenas textos sobre meus pensamentos; antigos e novos
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Outros títulos do mesmo autor

Poesias Borboletas e Euforia Larissa Ribeiro Santos
Poesias Unilateral Larissa Ribeiro Santos
Poesias O mal do século Larissa Ribeiro Santos
Romance Quando achar, segure forte Larissa Ribeiro Santos
Poesias Light of my life Larissa Ribeiro Santos
Poesias Esse desejo Larissa Ribeiro Santos
Cartas Carta de amor para o amor Larissa Ribeiro Santos
Releases Tente Entender Larissa Ribeiro Santos


Publicações de número 1 até 8 de um total de 8.


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