Em um futuro bem distante onde as pedras já viraram pó e tristeza é uma palavra que não existe mais, os cientistas proclamam as conquistas da ciência. Os físicos já controlam todas as vicissitudes da matéria e os limites do tempo e do espaço tornam-se coisas largamente conhecidas. A psicologia apregoa que possui instrumentos para prever todo e qualquer sentimento, toda e qualquer nuance subjetiva que possamos ter. A biologia afirma poder criar a vida nas mais variadas formas e tipos.
Em meio a toda essa Era Dourada de conquistas científicas, a Estação Espacial Hawking recebe uma mensagem radiofônica vinda de um planeta muitos milhares de anos-luz distante. A mensagem dizia que um astronauta, em missão de exploração, havia encontrado uma flor como única forma de vida existente em todo o planeta.
- Ela é bonita, tem pétalas vermelhas e azuis. Não sei como ela veio parar aqui já que não existe nenhuma outra forma de vida no planeta, nem em nível microscópico. – A voz do astronauta denotava um encantamento com a sua descoberta.
- Fiz uma análise com todos os instrumentos que trouxe e eles não revelaram nada. Hawking, ela é uma flor linda, vocês precisariam estar aqui para vê-la ao vivo.
- Não há nada aqui que sustente a vida dessa flor. Ela é um mistério...
Pouco tempo depois os técnicos na estação espacial retransmitem outra sequência de mensagens do astronauta:
- Hawking, a flor está morrendo! Façam alguma coisa, ela está morrendo. Por favor, façam alguma coisa, suas pétalas estão murchando ...a voz do astronauta demonstrava um certo desespero e tristeza.
Imediatamente os técnicos da estação espacial começam a afirmar que o astronauta está com algum tipo de fadiga especial e que seus repertórios comportamentais, implantados a um nível sináptico, podem estar apresentando algum tipo de falha e que poderá entrar em colapso.
- Recolha qualquer fragmento da flor, aqui nós poderemos estuda-la melhor. Acredito, que podemos criar uma cópia dela. – O cientista-chefe da estação fala de maneira cautelosa tentando demonstrar tranquilidade.
- Ela morreu ... ela era única, singular, não existe outra dela ...
Mesmo as melhores ponderações e os argumentos mais plausíveis não impediram que o astronauta sentasse no chão rachado e seco do planeta e chorasse copiosamente após presenciar a morte da flor.
- Que adianta fazer mil, dez mil flores idênticas a ela? – O astronauta falava isso enquanto, por entre lágrimas e soluços, desligava o sistema de sustentação de vida do seu traje.
Muitos anos se passaram e ocorreu que um outro astronauta pisou o solo do mesmo planeta distante e transmitiu pelo rádio que havia encontrado somente duas flores como única forma de vida existente.
|