Somos de uma pátria que não existe,
somos aqueles que, tristes, ensinam sorrisos
com versos malemolentes,
somos os que riem por qualquer coisa,
desdentados, sem dentes,
aos que passam, sisudos,
em seus mundos tartamudos...
Somos os recolhem palavras no lixo urbano,
as lavam, as passam, as levam ao mundo insano
que foi montado como brinquedo de peças,
os demiurgos dramaturgos transfigurados,
somos os poetas possessos, da fábrica
desvinculados...
Somos os bardos sem os altos castelos,
sem donzelas na torres, de paina os chinelos,
abrimo a boca e cantamos os mundo perdidos,
os dinossauros escutam o repente do matuto,
ovíparas aves revoam sobre o chão enxuto...
Somos as flores miúdas ao lado do asfalto,
os que saltam das pontes e voam, incautos,
apenas para se fazer ouvir na outra margem,
a espalhar o pólen de versos mui selvagens,
somos os que sobreviveram à hecatombe,
herdeiros de nautas violeiros insones,
aqui estamos sem mapas e planos,
vivemos porque muito amamos...
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