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Miojo
T. Richter

Que a vida é uma trilha pedregosa para qualquer um que não faça parte do seleto clube da elite eu já tinha pleno conhecimento desde que me entendo por gente, mas, para minha sorte nasci com uma grande vantagem.
     Eu gosto de miojo.
     Isso e também gostar de caminhar por trilhas, pedregosas ou não. Caminhada em trilhas é uma experiência bastante enriquecedora.
     Mas voltando ao miojo... gosto muito. E para um dileto membro da pequena classe média apertada isso é algo realmente bom. Acho que não estaria muito longe da verdade dizer que graças ao insigne macarrão instantâneo oriental não entrei nas estatísticas sobre inanição.
Tudo bem... estou exagerando, admito... mas que foi o miojo que salvou a situação em muitos daqueles dias de chegar tarde da noite da faculdade, foi. Hoje em dia sempre tenho, no mínimo, meia dúzia de pacotes em estoque, para qualquer eventualidade.
Há aqueles que reclamam que miojo é comida muito simples, até sem graça, mas todo bom apreciador de macarrão instantâneo tem sua própria receita. Eu tenho duas. A primeira leva azeite (de preferência extra virgem, mas uso qualquer um que tenha no armário) e ovo.
A segunda leva requeijão, azeite e ovo. Fica uma delícia, essa segunda receita, e o aroma que enche a cozinha conforme vai ficando pronto é de encher a boca d’água. O lado ruim é que lavar a panela depois é uma droga...
Fica mais gostoso se for miojo sabor carne. Esse é, aliás, meu sabor favorito. E pode-se colocar champignon nas duas receitas. É a versão sofisticada delas, pois tudo fica sofisticado quando leva champignons... Omelete? Trivial... Omelete com champignon? Sofisticado... sofisticado...
Para todo aquele que deseja alcançar o savor-faire na arte de preparar macarrão instantâneo o primeiro passo é aprender que os três minutos alardeados no comercial não são suficientes. Leva alguns a mais. Outra dica é que tem muita receita na internet. É só procurar um pouco. Um par de buscas rápidas é o suficiente.
Já ia me esquecendo de algo muito importante! Recomendo aos iniciantes que não façam da mesma forma que eu, deixando quase toda a água evaporar. Para tal é preciso muita experiência e maestria. Do contrário o macarrão vai acabar grudando no fundo da panela e para limpar é até pior do que a da receita no2.
Lembre-se... O miojo é o grande quebra- galho. O coringa escondido na manga. Amigo fiel no fim do mês, companheiro das madrugadas pós- show, aliado que pouca pesa ou ocupa espaço na mochila. Tudo isso.
Salve Momofuku Ando, criador do miojo e grande benfeitor de estudantes sem dinheiro, pequenos funcionários públicos, profissionais em começo de carreira e campistas. É grande nossa dívida para convosco. Descanse em paz, Ando- Sama e muito obrigado. Arigatou Gozaimasu.
Como tudo no mundo sublunar, o miojo não é perfeito. Tenho ouvido muitas censuras nos últimos tempos, em especial avisando-me dos altos níveis de sódio, mas alguns também falam de gordura ou do glutamato.
Tem aqueles que aparentam ter verdadeiro horror ao miojo! É engraçado que os tanto criticam o miojo são os mesmos que deixam passar em brancas nuvens o fato de serem usados no Brasil agrotóxicos já banidos em outros países e nunca mexem um dedo a favor da agricultura orgânica e familiar. As pessoas são simplesmente fabulosas de vez em quando.
Ouço com reservas tais ataques. Acredito que o amparo por ele, o miojo, prestado nos momentos difíceis supere em muito seus defeitos. Afinal que outro tipo de massa além do miojo pode ser comida crua em uma situação crítica como, por exemplo, um mal funcionamento repentino do fogareiro no acampamento?
Não é lá a oitava maravilha do mundo comê-lo assim, mas desce e forra o estômago vazio. “A paz está garantida quando não se está com fome” dizia Momofuku Ando. Não é bem assim, mas eu não deixaria de colocar algumas flores em seu túmulo por causa disso. Ou talvez uma fumegante tigela de miojo recém- preparada, homenagem talvez ainda mais adequada.
E sim, sei muito bem que “miojo” é uma metonímia, já deixo avisado aos gramáticos de plantão. E sei o que é uma metonímia também. Ainda assim continuarei comento miojo, independente de metonímias, sódio ou do tal glutamato.

*Originalmente publicado no extinto fórum do Bar do Escritor.

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