O mundo é bruto
E bruta é mais a divisão dos poderes
Ao rico a grana ao pobre o furto
A cerca é longa estendida entre os seres...

O mundo é livre e aprisionado
Arranha-céus e favelas ao pé do morro
Cabeça pensa e o pé parado
Na boca o pedido de socorro...

O chumbo voa e nem ave sabe
De onde vem tanta ignorância
O presidente diz que só nos cabe
Aceitar o fato em última instância...

Quem faz a lei dela só tira proveito
O povo só recebe migalhas
Cantam o hino com a mão no peito
Ao som das importadas metralhas...

Se apropriar virou mais que uma diversão
Roubar a terra é dar valor ao latifundiário
Que expulsa o pobre lavrador com safanão
E se cerca de jagunços e matadores ordinários...

Seria livre se não fosse o mundo propriedade
De governos que cospem na palavra democracia
E o socialismo misturado com religião é na verdade
O jugo eterno em nome de um deus que não se sacia...

O indivíduo é hoje vidro às pedras atiradas
Pelas mãos de quem comanda a corrupção
Só resta à ele que trabalha a cova rasa
Que é onde cessa a canção do coração...

Esperança é uma palavra perdida
Escrita em vermelho nos muros da cidade
E só ali é que se vê sinal da vida
Que foi ceifada por toda essa maldade...

Você que ouve e escuta
Faça pelos outros o que a si faria
Nós sabemos que só a força bruta
Pode acabar de vez com a poesia...

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