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NÃO Á VIOLÊNCIA
Isabel C.S. Vargas

Acompanhei pela internet o desabafo de um apresentador de televisão que foi assaltado e teve um objeto valioso roubado. A sua manifestação foi alvo de apoio e também de críticas como se o mesmo só agora tivesse percebido o caos em que vivemos no que tange a segurança, e também por ser ele rico, o que segundo algumas opiniões contrárias ao seu desabafo, parecem que o tornaria menos vítima do que outro cidadão.
     A constituição em seu artigo 5, inciso IV garante a liberdade de manifestação do pensamento, desde que não ocorra de forma anônima.
     Assim sendo, tanto o desabafo como o apoio e as críticas são perfeitamente válidos, desde que feitos de forma coerente, sem apelações, agressões ou ofensas.
     A situação econômica da vítima não pode ser motivo para considerar a agressão sofrida menos nociva ou irrelevante, porque a reposição do patrimônio lesado poderá facilmente ocorrer. Também não pode se questionar se uma pessoa é detentora de um patrimônio resultante do trabalho próprio ou se é advindo de bens de família, para estabelecer o grau de abusividade do ato praticado, senão estaríamos justificando qualquer agressão contra o patrimônio, o que, aliás, tem ocorrido com muita freqüência (invasões, depredações). Ser rico não é crime. Roubar, furtar, matar, ofender, violar, cercear liberdade de outrem, usar de má fé no exercício de cargo ou função pública, em proveito próprio, e inúmeras outras condutas tipificadas no Código Penal, sim são consideradas crime.
É necessário considerar a agressão que o cidadão é alvo, seja nos grandes centros urbanos, na periferia daqueles, nas cidades médias ou pequenas, tornando-os reféns da violência, da marginalidade, causando sérios danos emocionais à pessoa e não raro, traumas em famílias inteiras. Para quem sofre uma agressão física, a dor é a mesma, independente de situação econômica ou posição social, o dano ao patrimônio, para a vítima tem o mesmo impacto, quer seja um imóvel classe A, ou uma casa mais simples de um cidadão, que cumpre seus compromissos, ou pelo menos tenta faze-lo lutando de forma muitas vezes heróica para o sustento básico de sua família. Ambas sentem-se fragilizados e vulneráveis.
     A realidade dura é que estamos cada vez mais cerceados em nossa liberdade de ir e vir, vivendo gradeados, quer em casas, apartamentos, locais de férias, anteriormente espaços de maior liberdade, assim como nossos filhos e netos, criados dentro de uma conjuntura diferente da nossa, cada vez mais enclausurados nos espaços internos, sendo criados à volta do computador, dos jogos, gastando cada vez menos energia ou, então, tendo que cumprir agendas intensas com horários para futebol, vôlei, natação, judô, dança, na escola ou em outras instituições para não cultivarem hábitos prejudiciais e serem sérios candidatos a terem problemas relacionados ao sedentarismo, como a obesidade.
     Não é possível nem correto continuar enfatizando as coisas boas ou más, quando se referem à própria pessoa e desconsiderando o ocorrido com o outro.
     Só colocando-se no lugar do outro será possível desenvolver sentimentos e atitudes mais fraternas e buscar soluções que viabilizem melhor qualidade de vida para todos e uma sociedade mais equilibrada, mais tolerante, por conseqüência menos agressiva e violenta.


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