Há seis anos habito na cidade de São Paulo
E cada dia me torno mais determinado
A destruí-la

Não quero destruir
Os prédios que contornam a paisagem
Os cruzamentos entre as avenidas principais
Ou o vão do MASP

Quero destruir o mito de que essa cidade é cinza
De que seus habitantes estão fatalmente correndo ao trabalho
Ou que o amor acabou junto com a garoa

Destroçar a cidade que habita no imaginário comum
E que ainda propaga a ideia
De que o progresso é irremediavelmente acompanhado da fumaça do automóvel
Da privatização do espaço público
Ou do entretenimento falado em inglês

Vou acabar com essa cidade violentamente
Ocupar um prédio, parar as ruas nessa terça-feira à tarde
Cometer os atos revolucionários
De conversar com o mendigo que é meu vizinho
Levar as crianças a um espetáculo infantil no Jd. Ângela
Sentar para comer na quina da calçada e dividir o pão

E quando desse mito
Nada mais sobrar

Descanso

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