Os carros que ultrapassam os meus passos estão sempre à minha frente e o seu luxo é fatal, desejo roubá-los para te mostrar a exposição do Almada Negreiros. Os meus passos queimam o alcatrão mas mesmo assim não vou a lado nenhum, sento-me a ver variados carros a passarem à minha beira. Um dia há muitos séculos pedi-te para te aproximares mais mas tu gritaste tão alto que ensurdeci, olhando para trás vejo as rosas que te ofereci completamente murchas, desde o início viveram murchas. É um erro precipitarmo-nos: dizer de cabeça que as nossas contas dão certo, desejei dar-te os meus números para nos aproximarmos mais mas tudo estava murcho. Sonhei o Sonho do Amor e acordei cheia de feridas, feridas gigantes que fizeste na minha pele alva, agora sangro em demasia. Porque me atacaste com tanta falta de Amor? O que dói é a ilusão com que me presentearam durante séculos, foste mais uma ilusão e eu estou farta de estar cega, no entanto o que vejo agora é um pesadelo de ligações humanas que não são verdadeiras. Vejo também uma arma apontada à minha cabeça, sorrio: “vá liberta-me”.
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