Ninguém me fez assim
eu me fiz assim
escolhi a porta da direita
a seita da esquerda
li as piores páginas
reli os loucos
sangrei feito um porco
amei até chegar a madrugada e o sol a reboque
fiz escolhas certas
apostei no errado
sabe quem eu sou?
um homem
cruzei a ponte
trombei com elefantes
bati na porta de Deus - quem atendeu foi o Diabo
sorvi o veneno das serpentes
afaguei aqueles por quem tive compaixão
as piores palavras pus ao lado das melhores
fiz isso por mim
fiz isso por você
fiz isso por nós
recortei minha alma e a preguei nos postes
e me procurei até não me encontrar
me disseram que aqui era um lugar de paz
mas havia os homens
havia as armas
havia os enterros
havia o medo
o café quente ao pé do morto
havia as rezas
as catacumbas
e a vida - lá em cima
parecia ser feita só para os deuses
e eu
e você
e nós
todos perdidos onde deveríamos nos achar
secretamente sentimos
abertamente escondemos
e nenhuma chave abrirá a porta do ódio
e nenhuma chave abrirá a porta do amor
enquanto formos quem nós somos...

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