A solidão,
cansada de em si só ser,
buscou amor na tempestade,
sabia de sua voragem,
de sua volúpia aquosa,
pôs-se em vestido rosa,
batom claro, à vontade,
o quer iria dizer?
Marcou encontro sem dizer quem era,
silenciosamente caminhou, à espera,
sentou-se, só, a beber, de nuvens, chá...
Mal a vendo, a tempestade saiu correndo,
derrubou barragens, inverteu auroras,
fez-se brisa muito longe dali, arfando e vendo,
escapou por pouco, muito antes, muito embora...
Impávida, límpida e de mudez marmórea,
foi-se noite adentro em busca do seu refúgio,
sentiu, por um momento, o que seria a glória
de se livrar desse seu ar frio, macambúzio...
Em casa, isto é, no peito de quem só vive,
a poesia de sua tormenta escreve, redige:
"por só um instante eterno queria poder amar..."
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