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Punição (Parte 1 de 3)
PARTE 1: LIBERDADE
Wagner De La Cruz

Resumo:
Existe penalização ideal para a barbárie? Um psicopata pode ser perdoado, mesmo após uma carnificina? Vivemos em um mundo onde há, de fato, justiça?

"Punição", ajudará a esclarecer estas indagações, em uma história que coloca dramas familiares comuns entrelaçados ao que de mais insano há na mente humana.

Autor de "Horror na Escola" e "Nail's Art", Wagner De La Cruz novamente surpreenderá os leitores com seu conto mais ousado.

Para o casal Duarte, nada era mais divertido que um belo domingo em família. Pela manhã tomaram um belo café colonial na confeitaria Shekinah, a mais conceituada de Imbé. Ao meio-dia, Rogério assou um belo churrasco de vazio, sua especialidade. Ao entardecer, pai, mãe e filha foram ao Largo do Braço-Morto, tradicional ponto turístico do munícipio.

Entre uma cuia de chimarrão e uma mordiscada em uma rapadurinha de leite, Rogério e Tatiane planejavam a semana e conversavam sobre trivialidades enquanto Raíssa, a filha de doze anos do casal, acessava ao Facebook no tablet, acomodada em um balanço que começava a ficar pequeno demais para ela. O verão já havia passado há um bom tempo, e o largo estava praticamente vazio, exceto por um outro casal que se aventurava de pedalinho no pequeno lago central. Parecia que era exclusivo da família Duarte.

O saldo da temporada foi positivo, apesar da crise. O pequeno restaurante que administravam conseguiria sobreviver à baixa temporada, ainda que, lá por agosto ou setembro, tivessem que apertar o cinto um pouco mais. Mas, por enquanto, tinham bastante gordura para queimar com relação à conta bancária.

- Olha, amor! - disse Tatiane, apontando para a outra extremidade do pequeno lago - Os patos!

Rogério, meditando enquanto sorvia a água quente saborizada com a erva-mate, acompanhou o olhar da mulher, e sorriu ao ver alguns patos, com o seu tradicional andar quixotesco, mergulharem na água.

- Olha, filha! Os patos que o pai falou! Vamos lá ver?! - perguntara Rogério, entusiasmado.

- Ah… não. Tô bem aqui, pai. - a garota respondeu sem tirar os olhos da tela do eletrônico.

Tatiane e Rogério já estavam na faixa dos quarenta anos quando Raíssa chegou, após uma gravidez complicada e um parto ainda mais difícil. Amavam a filha de todo coração, mas, em uma frustração silenciosa, não compreendiam como ela podia ignorar a beleza do mundo em troca da veneração por supérfluos tecnológicos. Quando tinham a idade de Raíssa, o máximo de tecnologia que desfrutavam era uma TV a cores que sintonizava, quando muito, cinco canais.

- Tá bem - disse Tatiane, na mesma secura da filha -, você quem sabe. Vamos lá, amor. Trouxe pão seco para dar para eles.

Imersa na sua selva digital particular, Raíssa não pareceu ouvir ou se importar com as palavras da mãe.

Tatiane não tinha muita certeza se os patos, a exemplo dos pombos, comiam pão, e se surpreendeu quando a mamãe pata (e os cinco patinhos, como na música da Xuxa) devoraram os pedaços jogados na água. Vendo a alegria da esposa, Rogério também resolveu alimentar as aves, ainda que sua primeira ideia, jogar-lher rapadurinha de leite, tenha se revelado um fracasso.

Mais patos curiosos se juntaram à primeira família de penosos, e os Duarte seguiram alimentando os animais. Tatiane estudava secretamente a ideia de adotar um casal de aves (eles poderiam morar na piscina Mor de mil litros) quando consultou o relógio de pulso e viu que já passava das seis e meia. O clima já começava a esfriar e o sol já exibia a matiz avermelhada, coroando o fim do dia. Era hora de voltar para casa.

De mãos dadas, o casal regressava lentamente pela trilha de concreto do parque, tão apaixonados quanto há duas décadas atrás, época em que eram apenas namorados. O barulho rangente do balanço vazio pareceu ativar algum instinto primitivo em Tatiane, que, desvencilhando-se da mão de Rogério, correu até onde sua filha deveria estar. O carro da família encontrava-se solitário, perto dos brinquedos. A trilha que cobria o perímetro do local também estava deserta, sem qualquer sinal da menina. Rogério tentara contatá-la através de seu arcaico celular Blu, cujas únicas funções eram fazer e receber ligações, SMS e rádio FM, mas uma voz eletrônica avisava que o número discado estava indisponível.

Raíssa havia sumido.

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Contos Punição (Parte 3 de 3) Wagner De La Cruz
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Publicações de número 1 até 4 de um total de 4.


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