Fiz estes versos delicados
com pena de ganso e tinta nanquim,
uma um, tão bem desenhados,
todos tem começo, menos fim...
Para falar dos teus lábios
peguei das pétalas, emprestado,
o desenho que delineia cada curva,
o batom, com sabor, é todo de uva...
Ah teus olhos mais parecem oceanos,
convite à navegação em águas tranquilas,
voam gaivotas e vez ou outra aeroplanos,
cantan sereias e não vi nenhuma sibila...
O que dizer do teu colo em que pérolas poderiam
repousar como se o cetim das conchas, em brilho,
tecessem o frescor das gotas cintilantes que criam
a cascata afogueada como teus cabelos cor de milho?
Tudo em ti é acordo tácito entre paz e guerra,
paz do descanso que reina depois de tantos embates,
guerra entre aromas de países que o amor celebra
sem ferir de ferir, pensar hematomas de tantos quilates...
Fecho este retrato com teu rosto,
estátua de Grécias imemoriais em nosso inconsciente,
melhor verso a ti eu teria posto
se esse poema a ti fosse brilho do olhar
de um deus onisciente...
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