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ALGUMAS GOTAS DE REALIDADE
Sérgio Clos

Tudo passa tão rápido que, quando nos damos conta do fato, tudo mudou de lugar e já não é como era. Passamos a vida relativizando, otimizando, economizando, inventando, investindo, consertando e acumulando. De repente tudo parece não ter sentido nenhum. Lutamos tanto para chegar onde estamos e cá nos encontramos exauridos e cercados de coisas inúteis, fardos que tentamos manter a qualquer custo. Sabemos que para mantê-los, nós consumiremos as nossas últimas forças e as nossas reservas. Para quê?
É duro quando cai a ficha!
Nascemos com registro no cartório; crescemos com um número de identidade, CPF e título de eleitor. A partir de então somos monitorados dia e noite. Passamos a ter endereço, e-mail, telefone. Somos indivíduos repletos de identidades e viramos estatística. Nossas caixas ficam cheias de malas-diretas. Agora somos consumidores e fazemos parte de um mercado. Nada mais que isso. E, POR TERMOS DIVERSAS IDENTIDADES, NÓS JÁ NÃO TEMOS IDENTIDADE NENHUMA.
Num dia no ensinam que comer ovo é bom, no outro, é um péssimo negócio para a saúde. Comer chocolate então? Tem ano que é ruim, no outro ano é um santo remédio. O café nos deixava inteligentes, agora parece que não é tão bom assim. Mandam-nos fazer exercícios e depois dizem que o exercício físico detona com o esqueleto. Mandam-nos pegar Sol por causa da vitamina D e pegamos câncer de pele. E aí então nos mandam tomar a tal vitamina D em comprimidos e o fígado vai pras cucuias. Enfiam-nos um monte de porcaria e tornamo-nos pacientes renais. Cerveja? Bem, aí meu amigo, faz bem e mal. Ainda não chegaram a nenhuma conclusão. Quando a gente bebe, esquecemos logo desta confusão. Ainda bem.
Somos um mercado para medicamentos. Esta indústria alicia os psicólogos, terapeutas, psiquiatras, médicos especialistas e o escambau. Até eles acreditam que estão nos fazendo um bem, são também escravos do mercado.
Raspamos as panelas de alumínio e ficamos loucos. Tomamos água fluoretada e ficamos alienados. Consumimos uma mídia doente e nos deprimimos.
Aí então ficamos velhos e invisíveis. Ufa, acabou!
Surpresa! Tem mais:
Entramos em outro mercado especial e mais incisivo. Tornamo-nos consumidores de fraldas, leites especiais, cremes rejuvenescedores, bengalas, andadores, fortificantes, complementos vitamínicos, etc.
Ainda continuamos um dado para o senso. Para sermos mais bem monitorados vamos para os guetos asilares, ILPIs (Instituição de Longa Permanência para Idosos) ou similares, para onde os nossos ingratos filhos nos empurraram. Aliás, longa permanência é apenas um eufemismo, na verdade é a derradeira permanência. Dalí só para a capela, segundo dizia uma asilada bem humorada que conheci.
Quando estás prestes a fechar o livro da vida, no penúltimo suspiro, meia dúzia de funerárias lhe alcança um folder, prometendo uma maravilha de féretro. Quando você apaga de vez, já haviam acertado tudo bem antes de você fenecer.
Ufa, graças a Deus. Uma preocupação a menos!
Talvez lá no céu apareça um anjo engravatado lhe oferecendo uma nuvem aconchegante ou lá no umbral um esquerdista com a camisa do Che Guevara lhe convidando para entrar no sindicato e lutar contra o sistema explorador celeste.
Oh raios, ainda não terminou!
Sérgio Clos


Biografia:
Cronista e articulista. 64 anos
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