Um dia andaremos nus como simpáticos urubus felizes
sem o receio de olhares furtivos e espiadas,
um dia seremos nobres sem fraque e seremos as matrizes
de novas criações como fazem os poetas com as palavras...
Um dia estaremos acima das filosofias empregadas nas universidades,
não importará se teremos carros ou bicicletas movidas a ar,
carregaremos, à tiracolo, um saquinho de meias verdades,
como teremos corações como bombas evitaremos amar...
Um dia a água será em pó e o pão partido sem faca,
ouviremos música como se dentro de oceanos,
em cada dorso uma pequena e discreta marca,
seremos propriedades dos mesmos tiranos...
Um dia não haverá melancia e nem cães no meio da rua,
só homens em seus consultórios olhando outros nos divãs,
cada um deles dizendo suas insanidades, loucos como a lua,
nem reparando que nascemos irmãos ou irmãs...
Um dia o homem que enterra pessoas será um cego,
junto a cada um irá o saco com dinheiro e um poema de dor,
antes ele retirará da mão do futuro enterrado os pregos,
junto ao corpo um sachê de cor vermelha chamado Amor...
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