Na beira do lago, pesco...
Finjo-me peixe absolutamente escamado,
mergulho o mais fundo que posso, resto
do pensar humano deixo no lodo guardado...
Vago entre ciscos e alevinos,
restos de pescarias, anzóis, iscas,
na beira o grande fica, sou menino
debruçado nas lembranças mais ricas...
O tempo, que dorme o sono da ampulheta,
se deita ao meu lado e me fala de eternidades,
abre, aos poucos, suas antigas gavetas,
retira sóis, luas, um frasco com o pó da liberdade...
Somo a mim o cantar aquático de Netuno,
sereias passeiam enroladas em arraias miúdas,
despeço-me de ser tantos e torno-me uno
às gotas que caem, desmaiadas, da doce chuva...
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