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Perdendo o trem das onze junto com a glória boêmia
Pedro Alexandre

Trabalhar na noite como garçom me proporciona uma experiência de vida única, cheia de detalhes enriquecedores, ou nem tanto assim, sobre a vida, sobre relacionamentos, sobre sociedade, sobre comportamentos...
Vejo homens e mulheres, jovens de espírito e velhos de caráter, em suas mais diversas faces. Como comumente falamos, a pessoa que entra nem sempre é a mesma que sai, podemos ver duas ou até mais pessoas em uma única.
Quantos saem de seus escritórios cansados, desejando aquela cerveja com os amigos em uma boa roda de conversa? Muitos outros terminam expediente, se preparam para a tão esperada Sexta a Noite, o momento mais badalado da semana. Roupas, perfumes, sapatos, adereços, maço de cigarro. Criam-se laços com estranhos, parceiros de copo, o garçom amigo, o isqueiro emprestado, os olhares lançados.
Em algum momento do tão esperado momento de aproveitar, criam-se pontes ao abismo. Pessoas envoltas de amigos, colegas, que se desprendem do mundo físico e adentram ao virtual, interagindo unicamente com aqueles que estão longe, fazendo exatamente a mesma coisa, deixando de lado aquele que talvez fosse o melhor momento da semana por algo tão corriqueiro e banal.
Há tantas virgulas e pontos finais nas conversas, que esquecemos das reticencias. Essa geração hightech é tão evoluída e pensante, que não há espaço para observar além de um braço de distância e ver o abismo que está em formação. Uma erosão social se aplica levando consigo todo ode à boemia. Os olhares vazios e distantes realçados pela luminosidade azul de uma tela se tornaram o ponto de solidificação de sentimentos humanos que deveriam preencher o ar de risadas, histórias mal contadas, flertes e pedidos ao garçom amigo. As câmeras frontais recebem mais atenção do que os olhos da sua pretendente, que por sua vez também não retribuirá nada enquanto mantiver as mãos num plástico qualquer ao invés de entrelaçar seus dedos. O triste fim da boemia em virtude da tecnologia.
Quanto a mim? Sou um simples garçom amigo, que ouve muita coisa, que comprou um relógio de pulso para não usar a desculpa das horas e assim aproveitar bem o pouco tempo que a vida noturna proporciona, usando as conspirações favoráveis do universo para ter uma verdadeira troca de olhar e sorrisos com aquela que roubou minha atenção.

Pedro Alexandre


Biografia:
Só mais um cara qualquer que brinca de juntar palavras.
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Contos Conto de uma noite de outono Pedro Alexandre

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