De cada um que encontro arranco uma palavra;
são tantas cheias de sons, outras que vagam,
de cada um, um pedaço tiro como um ourives,
poeta do ouro do sentimento, que já não vive
de poemas escritos com vinho, noite e sangue,
sou mais os cacos que apanho, as miçangas,
caranguejo faminto, livre e solto no mangue,
a poesia que decora o coração em frangalhos,
amar, te digo, já não é mais para espantalhos,
para quem vende e compra e pouco se zanga,
quem joga com a sorte como se num baralho...
No fim da cada dia que caminho pela via dos que não sentem
ergo ao alto o mural de pedrarias que apanhei de cada um ao lado,
a prata dos olhares, o cobre dos olhos dos que mentem,
o aço das angústias, o ranger dos corações, ferro enferrujado...
Mas ainda acredito que ninguém morra sem ter vivido de amor,
seja um pequeno, um todo torto, arame farpado, doce, felpudo,
desconheço na travessia se há alguém que não tenha colhido a flor
no meio da selva do prazer, que não tenha sido a alguém um mundo
que se chama de manhã, suave, querência, fome, vem cá, meu amor...
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