Muito embora te ame,
não menos que muito e outro tanto,
te revelo, neste poema cheio de espanto,
que tenho certas dúvidas sobre o que seja o amor,
essa matemática inexata que vive cheia de supor
que qualquer soma de afagos e carinhos feitos
será sempre menor do que todo o sentimento
que se tem dentro do peito...
Muito embora te queira mais do que digo,
não menos do que ama a brisa da manhã o campo de trigo,
te conto, neste poema cheio de teoremas e suposições,
que me come por dentro certas estranhezas amorosas,
por exemplo, por que não conta aos espinhos, a rosa,
que é delicada e precisa de olhos que se deliciem com a sua visão,
por que não diz ao mar o rio que irá ao seu encontro,
por que prefere despedaçar em mil partículas
seu aquático coração?
Muito embora te ofereça a minha vida, de graça,
não menos que se ofereça ao pesadelo o sonho que o ultrapassa,
te escrevo, neste poema repleto de balbúrdia e rebuliço,
que acho o amor uma coisa cheia de quebras e enguiço,
falta gasolina quando o coração quer partir,
a chave é falsa quando o cadeado da dor se quer abrir,
mais ainda, não há ponte entre a separação e o encontro,
menos ainda se está preparado quando se chega ao final ponto...
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