Talvez penses, sozinho, no quanto perdeu ao longo do caminho,
as festas que não foi, o barulho que não fez, os goles de vinho,
as portas que não abriu, os sonhos que se desfizeram na bruma,
penses, talvez, que por não ter feito quase nada, nada fez...
Não se esqueça do afago no rosto da amiga que perdeu alguém,
a devolução da carta que caiu do carteiro, sem endereço,
a correção na lição do menino que mal sabia escrever,
o conserto da cerca da horta de sua mãe,
o aceno quando alguém partiu para não voltar...
Talvez penses, hoje, que um homem para nada serve,
que se assemelha a uma serra elétrica a desmatar florestas,
pareça com ogros de histórias que te contaram quando era criança,
crie seres em laboratórios, ofenda a crença de cada um,
prepare o futuro com suas armas sofisticadas...
Não se esqueça que está lendo uma poesia
de alguém que te deve um abraço,
não se esqueça que hoje é mais um dia
que poderemos viver traçando o mesmo traço...
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