Como um motor desmontado no quintal de casa
procuro entre as peças aquela que o fazia seguir,
um eixo que a tudo controlava, o óleo do sentir,
mil dezembros postos para quem queria fugir...
Tantas marcas e a ferrugem da solidão em suas asas,
sem número e sem data e hora de criação,
o levo, peça por peça, para dentro de casa,
hora de fazer reparos neste usado coração...
Tantos rostos e a memória da carne no calendário de sonhos,
o medo de ver o passado passar, passageiro e rápido demais,
restos de sentimentos feridos, pergunto-me onde os ponho,
cada tempo com seus músculos, o rosto infante do mesmo rapaz,
como um pedido de socorro os coloco dentro do vidro
esperando a hora deserta e certa de lançá-lo ao mar...
Nenhum amor escapa inteiro dos encontros e perdas,
há de se ver as tatuagens das marinheiras viagens,
só a solidão os pedaços de amores feridos herda,
um fio de luz no labirinto aponta a nova passagem...
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