Lá dentro estão os homens, suas leis e normas,
suas preferências que iguais a todos tornam;
bebem e fumam e conversam e sussurram
e se banham e se lavam e se perfumam...
Apertam as mãos, soltam as mãos,
retornam aos seus lugares, nestes jantares
ceiam as doces carnes macias que lá estão
disponíveis para se banquetearem...
Do lado de fora,
pelo fosco vidro admiravelmente transparente,
sobre um balde que uso como suporte e escora,
vejo tudo tão igual e tão diferentemente...
Cá, onde o grafite deixou de ser carvão,
as mãos na massa ponho e anseio
descrever esta paisagem sórdida tão,
nas entrelinhas enferrujadas tudo leio...
Quem sabe a direção do vento repentino,
da fusão dos átomos no meio da rua,
sabe quem porque loucura é desatino,
meus olhos tocam e não as mãos, a lua?
Não precisa me explicar o que já sei,
nem tentar o que não pode compreender;
a vida, essa farsa dentro da camisa de força da lei,
não evitará que procuremos o que quer ainda se esconder...
Tudo se completa e quando completo não está
sempre haverá de uma prancha um modo de se subir
e de lá mirar o longe e então se atirar;
a descoberta já não poderá mais fugir...
Ainda dá tempo de buscar a colisão de fótons alucinados,
partir em mil pedaços e conhecer o que há para se supor,
ainda dá tempo de esquecer a camisa de força no sacrário,
conhecer o indivisível e colocar o espírito do conhecimento
ao seu dispor...
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