Por Richard Sibbes, traduzido e adaptado por Silvio Dutra.

A pobreza de espírito deve nos acompanhar toda a nossa vida para nos deixar ver que não temos justiça, nem força de nós mesmos para a santificação; que toda a graça que temos é para sair de nós mesmos, inclusive para o desempenho de cada dever sagrado; porque, embora tenhamos a graça, não podemos trazer essa graça em ação sem novas graças, do mesmo modo que embora haja uma adequação em árvores para darem frutos, todavia não podem fazê-lo sem a influência do céu para serem frutíferas.
Aquilo que muitas vezes nos faz fracassar nos deveres de nossos chamados é que pensamos que temos força e sabedoria suficientes, e então o que é iniciado em autoconfiança é terminado em vergonha. Nós nos entregamos à execução de nossos deveres b asseados em nosso próprio orgulho e força, e não encontramos nenhum maior sucesso; por isso é sempre um bom sinal que Deus abençoe nossos esforços, quando a partir de um profundo senso de nossa própria fraqueza, regamos os nossos negócios com orações e súplicas assim como fizera nosso Senhor com grande clamor e lágrimas: "O qual, nos dias da sua carne, oferecendo, com grande clamor e lágrimas, orações e súplicas ao que o podia livrar da morte, foi ouvido quanto ao que temia." (Heb. 5: 7).
Os corações dos homens, sim de bons homens, tendem a ser ocupados com as coisas exteriores. Quando os fracos discípulos expulsaram demônios, eles estavam prontos para se orgulharem, mas Cristo rapidamente observou isto e os admoestou para não se regozijarem que os demônios se lhes sujeitassem, mas porque os seus nomes foram escritos no céu (Lucas 10:20). Portanto, quando encontramos a menor inclinação para nos gloriarmos em qualquer coisa é preciso examinar a nós mesmos, e considerarmos que graça possuímos para usá-la e que amor pelos homens nós temos para transformar essas coisas para o bem comum. Pois, tudo o que o homem tem, se ele não tiver também a humildade e o amor para usá-lo corretamente, isto se tornará sua tristeza.
Os filhos de Deus são fortalecidos por suas quedas; eles aprendem a se levantar com suas quedas. Como cedros altos quanto mais eles são soprados pelo vento mais profundamente ficarão enraizados. Aquilo que os homens pensam que é para derrubar os filhos de Deus, faz, senão com que lancem raízes mais profundamente, para que depois de todas as tempestades exteriores e todas as tentações interiores, isto seja o resultado: "Eles lançam raízes para baixo e dão frutos” porque o Senhor restaura suas almas.
Muitos homens que fazem uma profissão são como o falcão que sobe alto, mas tem fraca visão; mas aqueles que olham as alturas que sobem são elevados com Cristo, porque um cristão sendo achado uma vez num estado de graça se esquece do que fica para trás, e olha adiante para subir cada vez mais alto, até que ele esteja em seu lugar de felicidade. Assim como quando Cristo ressuscitou, houve um terremoto, assim os que são ressuscitados com Ele encontram uma comoção e conflito entre a carne e o Espírito.
Ninguém pode ser verdadeiramente confiante, senão os filhos de Deus. A confiança de outros homens é como a força de um louco; ele pode ter a força de dois ou três por um tempo, mas é uma falsa força, e isto sucede quando eles são levantados para cima sobre as asas da ambição e favor dos homens; mas esses homens na hora do julgamento afundam. A esperança do ímpio perecerá (Jó 8:13).
É o amor gratuito de Deus que nos tem lançado para estes momentos felizes do Evangelho, e isto é ainda mais amor que faz a escolha de alguns e deixa outros. Isto deve, portanto, nos ensinar uma sadia humildade, considerando que Deus deve abrir o coração ou então ele irá permanecer eternamente fechado.

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