Cansei de palavras tristes,
que roubam do sol seus longos braços
e escrevem chuvas densas com seus traços,
vidros fechados e rostos opacos,
janelas de lábios cerrados,
ruas sem pés marcados,
mãos duras que jogam dados,
cansei de estar ocupado...
Cansei de versos que choram em vez de rir,
vivem à sombra da solidão e comem manhãs recém-nascidas,
preferem os trovões do destruir
do que o choro aberto e lúdico do nascer da vida,
cansei de pedras que afundam e levam sonhos delicados,
do barulho das correntes com seus pés pesados...
Cansei de pedir e escutar que nada é possível,
que estão sendo devorados pelo trabalho e pelo cansaço,
que não existe lugar com cachoeiras e ar aprazível,
que só estamos aqui para vivermos sob este humano mormaço...
Desculpem os que preferem a tinta preta do soluço,
que cai sobre o pele virginal e traça traços sem cor,
prefiro ouvir das árvores o que cantam as folhas e o que escuto,
prefiro a palavra certa, desenhada, e que se chama amor...
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