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Intentamos fundar uma nova civilização. Como isso é possível? E por quê? A resposta que hoje nos parece bastante óbvia: como tolerar a civilização que (nós mesmos) nos fizemos engolir goela abaixo? A civilização herdada: construída e reconstruída sobre camadas e mais camadas da lei do mais forte, do paternalismo, do imediatismo, da irresponsabilidade, da busca do conforto estéril, da indiferença, da limitação de pensamento e de vontade.
A ferramenta é aquela que nos acompanhou e acompanha desde sempre: os sobre-humanos poderes de observação. Deus existe? Observe à sua volta e veja o que acha. A razão existe? Observe ao seu redor para formar uma opinião. Você mesmo existe? Quem liga para isso? Todos deveriam. Porque afinal de contas a sua vida é problema seu, mas não como algo isolado que se encontra eventualmente na natureza. De um ponto mais alto, a sua vida se torna um problema para tudo o que ela toca, e vice-versa.
Falsa oposição: a divindade e a razão. Dois caminhos para o mesmo infinito (infinitos que se cruzam). Verdadeira oposição: sujeito e objeto. A lei do sujeito. Eu (e você); você (e ele); nós (e os outros). Aí sim o conflito eterno, a história de todas as guerras (a história afinal): pouco espaço para tantos e tão grandes egos. Pouco espaço dentro de um mesmo ego para a sua própria dilatação. Tudo ocupado, o copo cheio do sujeito, a falta de ar. O ser que continua achando que pode fazer tudo (e não pode?), dividido, competindo, multiplicando problemas; unido, compartilhando a busca que é de cada um e de todo mundo. Busca por vida: como encontrar a vida, sendo vivo?
Resposta: não pelo artifício provisório. Sim pelo artifício que (se) sustenta.
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