Quando eu era jovem era livre
mãos que alcançavam estrelas e tocavam o sol
desenhava nos muros pedaços de sonhos
eu era feliz de uma felicidade simples
bebia e fumava e comprava e pagava
sexo era uma coisa muito boa
conversava até tarde sobre qualquer coisa
tocava violão e cantava e ria e chorava
era livre como são os bulbos
como são os paralelepípedos das ruas
a mentira não existia
viver era urgente era agora
não chutava cães e nem zombava
era jovem e era livre era feliz
descia e subia ladeiras
corria e ria e fumava e pagava
e vivia como os livros na biblioteca
saudando a manhã e amando a noite
era jovem e era livre
e lia e pagava e comia e fugia
e nunca chegava não havia porque chegar
o futuro era uma lenda
o passado o esquecimento
só havia o presente
vivo como uma pedra solitária
como um resto de luz depois
que os olhos da noite se abrem
era livre e feliz e amava e pagava
e comia e dançava e ria e sonhava todo dia...

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