Eu não tenho verdades ou certezas a dar.
Muitos pintam certezas e gritam verdades.
E eu? Eu não grito nada, nada que se possa ouvir.
Hoje minha voz não ecoa.
Certezas?
Clareza e discernimento?
Quando eu pude na vida ter algum discernimento?
Nunca entendi coisa alguma.
Nunca fui coisa alguma.
Nunca conseguir analisar nenhuma das minhas ações, nem antes nem depois, sempre encontrei-me
seguindo o fluxo sem perceber sentido algum.
Como pode alguém conseguir entende qualquer coisa por aqui?
Os acontecimentos da vida veem em ondas, com intensidades e alturas diferentes.
Nessas ondas eu nunca consegui surfar suave, nunca fiquei em pé. Sempre fui aquele que leva o
caldo e fica de pernas pro ar, afogando, com água entrando pelo nariz e boca, fazendo doer a cabeça
e lacrimejar os olhos.
Quando mais jovem, meu desespero para achar verdade no mundo era tanto que tornei-me
engenheiro. Usei o cálculo, cheio de exatidão e igualdades, para encontrar um pouco de calma.
Só esqueci-me que também tenho alma e essa rima é apenas uma ilusão.
Acabei erguendo-me sem exatidão de prumo, por isso ando tão torto, pendido para o lado.
Percebi que não tenho canto esquadrejado.
Percebi que nunca usei seno, cosseno ou tangente para encontrar minhas inclinações.
Achei-as por acaso, flutuando ao sabor do sol e da chuva.
Achei-as lá fora, dançando e brincando em todas as direções.
Muitos pintam certezas e gritam verdades.
E eu? Eu não grito nada.
Eu não tenho verdades ou certezas a dar.
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