Volto para casa todos os dias e ela não está mais lá,
talvez seja a sua a minha, sua família a minha,
talvez sejamos parentes, primos distantes,
sejamos, talvez, gotas do mesmo riacho,
pedras do mesmo jogo, na verdade,
filhos do ouro bruto, sejamos
apenas o brilho falso...
Abro a porta de sua casa que é a minha,
então entro e beijo os filhos que não tive,
o cão que nunca afaguei lambe minha mão,
a esposa que nunca dormiu comigo,
no quadro pendurado, na fotografia,
procuro mas lá não estou...
De manhã saio e o mundo já é outro,
com novas poesias escritas em ouro,
altos muros e janelas fechadas,
pórticos em marfim de elefantes
que nasceram no cativeiro,
a palavra amor cuspida no muro,
o homem debaixo dela me cumprimenta,
somos a frase final desta poesia,
só o cansado coração nos orienta...
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