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Nesta academia o relógio não parou
o relógio não parou
Rafique Anusse

Resumo:
Era noite, e eu aguardava o troco do analgésico que havia comprado na farmácia do outro lado da Cipal, alias ao pé das bombas da total. De repente, ouvi aquelas duas pessoas que, pelo sotaque, reconheci que tratava-se de estudantes da academia de ensino a qual faço parte (Up-Nampula). Diziam, em tom de zombaria, que nesta academia o relógio parou. Quase não consegui receber o dinheiro, tamanha a minha vontade de sair de perto deles. Cheguei em casa e percebi que continuava chateada com aqueles comentários.

Nesta academia o relógio não parou

Rafique Anusse

Era noite, e eu aguardava o troco do analgésico que havia comprado na farmácia do outro lado da Cipal, alias ao pé das bombas da total. De repente, ouvi aquelas duas pessoas que, pelo sotaque, reconheci que tratava-se de estudantes da academia de ensino a qual faço parte (Up-Nampula). Diziam, em tom de zombaria, que nesta academia o relógio parou. Quase não consegui receber o dinheiro, tamanha a minha vontade de sair de perto deles.
Cheguei em casa e percebi que continuava chateada com aqueles comentários.
É certo que é uma academia com muitos desafios, e perspectivas de crescimento face as exigências da famosa globalização, mas não é por isso que tenho de aceitar alguém falar mal dela.
Todos devem ficar sabendo que os ponteiros do relógio também giram por aqui e, se não existem os matérias e meios didáctico que sobejem, aqui existem aqueles que chegam para todos e tudo. Temos um gigantesco leque de exemplos onde se pode notar o explosivo desenvolvimento qualitativo e quantitativo dos pilares tecnológicos desta nossa maiúscula academia, a qual nos catapulta ao apogeu da universalidade.
Fico aqui pensando que na minha academia o relógio não parou, só não possui estudiosos que a defenda de todos mal dizeres, mas possui adeptos como eu e você, que assistimos e nos alegramos com os consecutivos sucessos e glorias que a nossa lindíssima academia produz, não como as partidas de futebol nas tardes de domingo entre Mambas e outros. Aqui o cenário é muito diferente desse.
As horas continuam passando por aqui. De tal maneira que temos amado esta academia, acima de todas as coisas. Infelizmente alguns não têm aceitado estas realidades porque querem ser tolos. Temos amontoado coisas e seguranças por não nos termos, nem aos outros. Não teremos nenhuma alegria se considerarmos que os ponteiros pararam por aqui. Não nos temos entregado a nós mesmos, pois isso seria o começo de uma visão larga e talvez sem equívocos.
Aqui o relógio continua funcionando, sim! E pouco a pouco eu fui sentindo uma paz naquele começo de escuridão, senti também vontade de deitar e dormir entre a erva húmida, de se tornar um confuso ser vegetal, num grande sossego, farto de ouvir aquela tamanha barbaridade pensada e proferida pelos meus homólogos da academia. E essa façanha dos meus homólogos deve extinguir, porque eu ficaria verde, emitiria raízes e folhas, meu tronco seria um tronco escuro, grosso, meus ramos formariam copa densa, e eles seriam, sem angústia nem voz, sem desejo nem tristeza, quietos, imóveis e infelizes.


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