Nem que nos digam - nunca mais, nunca mais, nunca mais,
abra a janela e sinta o ar da manhã,
deixe que entre pelos tímpanos o canto da rã,
que te toque os dedos longos da brisa marítima do cais...
A faca, sozinha, o lento gesto de preparar a comida,
a alma, sozinha, o lento gesto de viver a vida,
o corpo, sozinho, o lento gesto de achar o caminho,
o tempo, completo, a mover os engenhos das uvas e do vinho...
Escreva palavras solteiras para que casem sentimentos,
palavras verdadeiras que nasçam sobre o cimento,
escreva às terças para que as quartas saibam de tudo,
escreva silêncios para ouvir o que parece estar mudo...
Nem que escrevam - o mundo acabou,
que escrevam - o reino está longe daqui,
escrevam - o amor se auto-exilou,
escreva você - aqui estou!
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