O homem mata outro homem por ciúme de uma mulher:
dê-lhe casa, comida, outra vida,
ele se arrependeu, cedeu
aos impulsos assassinos,
coitado, é só um menino
que cresceu longe do amor,
vai responder em liberdade,
isso é o que a vida é, liberdade,
e a morte é apenas falta de sorte
para o opositor de seu amor,
sujeito inconsequente,
querer tirar-lhe a cama quente,
o milho cozido, al dente,
mesmo que a mulher tenha escolhido o outro
ela tem que viver com ele até que o gosto
de sangue lhe venha aos lábios,
ela é minha, diz ele,
de mais ninguém,
se não for,
morre também,
isso é o poder de escolha,
ou viver com ele, numa masmorra,
ou deitar-se na terra, dentro dela,
esquecer o purê, o jogo de panelas,
e, enquanto isso,
a sociedade compromissada só com seus compromissos,
nem liga para isso,
deixe o homem seguir seu caminho,
pagará por dentro,
pisará em invisíveis espinhos,
hipócrita sociedade de humanistas descompromissados,
releva e vela por homens que matam sem a mínima dor,
homens brancos, pálidos, de cor,
não os punem com a mesma sorte,
isto é, a mesma pena,
a morte...
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