De que me vale falar de tanto amor
se não me escutas em tua cela escura,
dentro de teu escritório com cheiro de suor,
se a presença de versos tua alma não muda,
nem quando cai em tuas mãos um livro qualquer
de um poeta que pertence à geração anônima,
riscos à unha de quem viveu às suas expensas o pior,
lá estão grafitados na branca página a voz da solidão,
vindas, pode ser, de Amherst, ou dos becos do coração?
De que a poesia precisa para que a palavra diga
o que exatamente quer dizer, sem nada mudar,
que te erga deste pântano com a mão amiga
que faz renascer a vida que há em teu sonhar?
De que estamos falando
quando te vejo por detrás do vidro blindado,
onde nem o vapor da respiração e nem dando-
te adeus te vejo sorrir, mudo, hirto, acanhado?
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