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Análise de Mar Absoluto, de Cecília Meireles
Geovânia Costa da Silva Reinaldo

UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ-UVA
CENTRO DE FILOSOFIA, LETRAS E EDUCAÇÃO-CENFLE
CURSO DE LETRAS-PORTUGUÊS
LITERATURA BRASILEIRA DO PRÉ-MODERNISMO Á GERAÇÃO DE 30
PROFESSOR: ANGELO BRUNO
UMA VISÃO SUBJETIVA DO MAR NO POEMA “ MAR ABSOLUTO” DA OBRA “MAR ABSOLUTO E OUTROS POEMAS” DE CECÍLIA MEIRELES.   
Geovânia Costa da Silva Reinaldo 2
      Cecília Meireles nasceu na Tijuca, no Rio de Janeiro em 1901 e faleceu em 1964, foi a primeira mulher a alcançar destaque no cenário da poesia brasileira, pertencente à Geração de 30, escreveu vários livros de poesia em que desenvolveu as tendências da corrente espiritualista da segunda geração. E em
1945 publicou o livro “Mar Absoluto e Outros Poemas”.
Será feito nesse ensaio uma análise no poema “ Mar Absoluto” na tentativa de explicar como a autora apresenta essa visão subjetiva do mar, aonde ela expressa ou manifesta suas ideias ou emoções, seus próprios sentimentos. Pois o grandioso mar é a um só tempo simbólico do eterno, pela sua vastidão, e do efêmero e pela contínua mudança de suas formas.
A obra “Mar Absoluto e Outros Poemas” de Cecília Meireles é apresentada em formas de poemas. Com a preferência por versos curtos Cecília dá leveza e suavidade a sua poesia, ela trazia para sua poesia a sua maneira de ver o mundo, segundo ela, de acordo com Abaurre e Pontara (2013, p.87): “A noção e o sentimento de transitoriedade de tudo é o fundamento mesmo da minha personalidade”. O poema analisado foi: “Mar Absoluto”.
Em "Mar Absoluto" a autora tanto discorre sobre o elemento da natureza "mar" como também enfatiza sua emoção e sensibilidade em relação às surpresas da vida. Sobre essas questões Abaurre e Pontara (2013, p.87) destaca o seguinte:

Sua sensibilidade manifestava-se na valorização da intuição e da emoção como formas de interpretar o mundo. O lirismo delicado que caracteriza sua poesia está intimamente ligado a imagens da natureza (a água, o mar, o ar, o vento, o espaço, a rosa) e do infinito, compondo uma atmosfera de sonho e de fuga.

Através do trecho acima, é notório que Cecília Meireles utilizava-se de suas poesias para discutir a sua forma de " ver" o mundo, isto é, a autora opina sobre diversos assuntos pertinentes à sociedade, tais como as angústias pessoais. Mas à medida que a mesma apresenta temas fortes (morte, angústia), também os repassa de formas sutis, muitas vezes associando-os com a leveza da natureza.
No poema " Mar Absoluto", nota-se que no início do poema, a autora confronta à transcendência do mar a própria historicidade: “ Foi desde sempre o mar. / E multidões passadas me empurravam/ como a barco esquecido” (MEIRELES,1983, p.13). O eu lírico sugere que o mar nunca deixou de ser mar, porém afirma que a própria existência é justificada pela influência dos antepassados, pois são eles que o conduzem pela vida, assim ele se compara com um barco que está à deriva sendo levando pelas ondas.
De acordo com Meireles (1983, p.13): “ Então, é comigo que falam, / sou eu que devo ir. / Porque não há mais ninguém, / não, não haverá mais ninguém,
/ tão decidido a amar e a obedecer a seus mortos”. Nesse trecho, o sujeito lírico conclui que os mortos falam com o mesmo, e que prontamente ele deve ir, já que somente ele se prontifica a ouvi-los, já que ele é o único que ama os antepassados, então deve obedecê-los e assim ir de encontro a eles
Conforme a autora “ Meu sangue entende-se com essas vozes poderosas. / A solidez da terra, monótona, / parece-nos fraca ilusão. / Queremos a ilusão grande do mar, / multiplicada em suas malhas de perigo” (MEIRELES,1983, p.14)
O eu lírico repassa que quando ouve a voz dos mortos, ele se engrandece, e que tudo que era real, aparentemente concreto, que faz parte do cotidiano se torna uma fantasia. Assim ele revela que há um desejo de se ter a grandiosidade do mar, juntamente com todos os riscos que o mesmo pode trazer, dessa forma fica perceptível que quando ele escuta os mortos ele se torna mais forte.
Ainda no que se refere a existência, a autora ressalta “ Queremos a sua solidão robusta. / Uma solidão para todos os lados, / uma ausência humana que se opõe ao mesquinho formigar do mundo, e faz o tempo inteiriço, livre das lutas de cada dia” (MEIRELES,1983, P.14). Diante desse enunciado pode-se dizer que o eu lírico sugere que as pessoas sentem o desejo de sentir a solidão que existe nos mares, essa solidão existencial que se contrapõe com o mundo real, esse que é agitado, assim viver no mundo dos mares seria livrar o ser humano das batalhas diárias.
E ainda no que se refere ao Mar, a autora destaca “ Não me chama para que siga por cima dele, /nem por dentro de si:/mas para que me converta nele mesmo. É o seu máximo dom” (MEIRELES,1983, P.15). De acordo com esse trecho, fica evidente que o mar não intenciona que o eu lírico o acompanhe, que ele venha a conduzi-lo, assim como fazia os antepassados, dessa forma ele deseja que o eu lírico se torne o próprio mar.
E a respeito do que deseja o mar, acrescenta a autora “ Aceita-me apenas convertida em sua natureza:/plástica, fluida, disponível, /igual a ele, em constante solilóquio, /sem exigências de princípio e fim. / Desprendida da terra e céu” (MEIRELES,1983, P.15). Nessa passagem, o eu lírico revela que o mar o deseja de forma desprendida, assim como ele mesmo, em pleno monólogo, ou seja, conversando consigo mesmo, completamente indiferente a ideia de começo e fim, assim também desvinculada da ideia de terra e céu.
Na estrofe seguinte, afirma:

E eu, que viera cautelosa, / por procurar gente passada, / suspeito que me enganei, / que há outras ordens, que não foram bem ouvidas; que uma outra boca falava: não somente a de antigos mortos, / e o mar a que me mandam não é apenas este mar. (MEIRELES, 1983, P. 15)


De acordo com esse trecho, o eu lírico menciona que ao buscar o mar com a intenção de encontrar nele as vozes dos entes, ele acaba se deparando com outras vozes, essas que diferem daquelas que o sujeito busca, pois não se trata unicamente das vozes dos antepassados, e assim percebendo também que o mar não era somente o mar, pois havia uma teia de espiritualidade envolvida.
E por fim a autora conclui o poema com os seguintes versos: “ E retrai-se, ao dizer-me o que preciso. / E é logo uma pequena concha fervilhante, / nódoa líquida e instável, / célula azul sumindo-se/ num reino de um outro mar:/ ah! do Mar Absoluto.
O eu lírico afirma que quando o mar fala a ele o que é necessário que saiba, nesse momento o mar deixa de ser estável, acaba-se tornando vulnerável, chegando o sujeito lírico a afirmar que esse mar vira uma pequena concha, e que aos poucos vai se perdendo dentro do mar espiritual que é o Mar absoluto.


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

ABAURRE, Maria Luiza M; ABAURRE, Maria Bernadete M; PONTARA, Marcela. Português : Contexto, Interlocução e Sentido. 2ed. São Paulo: Moderna,2013.

MEIRELES, Cecília. Mar absoluto e outros poemas: retrato natural. Rio de Janeiro: Nova Fronteira 1983.













    
   

   

           

   



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Ensaios Geovânia Costa da Silva Reinaldo


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