A menina de pernas gordinhas calçadas em sapatos ortopédicos brinca com suas mãozinhas, admira-se com as cores do cata-vento, seus olhinhos brilham e piscam encantados com o espetáculo multicor daquele estranho objeto posto em seus dedinhos.
Ansiosamente esperada , desde o ventre materno tão amada, recebeu o nome da mãe de Maria, mãe de Jesus. Chamou-se Ana, ela também filha de uma “Filha de Maria”. Filhas todas de Deus.
A menina, que agora conhecemos pelo nome de Ana, avó de Jesus, adora seus cachorros. Detesta brincar com crianças cujo nariz não recebe a devida limpeza, ou seja, têm suas secreções expostas à céu aberto, ou melhor dizendo,catarrentos.
Ana tem nome de princesa e assim é tratada por seu papai e sua mamãe, ambos marinheiros de primeira viagem. Paparicos por todos os lados. É só apontar o dedinho para qualquer objeto e a mamãe depressa realiza o desejo da garotinha.
No dia do batizado de nossa Ana, não aquela que é avó de Jesus, mas essa que é filha de sua mãe e de seu pai e neta de seus avós, estava mais linda do que nunca, os cabelos pretinhos e brilhantes, roupinha e sapatinhos branquinhos, ortopédicos, os sapatos, apesar de não possuir nenhum problema nos pezinhos, apenas precauções de mãe.
Um pouco mais velha, aos quatro anos, ficará maravilhada ao calçar pela primeira vez chinelos de borracha. Sua mamãe ficará encantada com a menininha com seus pezinhos, fechados durante um longo tempo em botas ortopédicas, assim tão nus. Ana irá adorá-los, embora no início não os calçará de forma correta, trocará os pares colocando-os nos pés de forma errada, ou seja, direito no esquerdo e vice-verso.
A menininha receberá atenção especial de seus avós. Joaquim é o nome do pai da sua mãe, seu avô. Jovita o nome da mãe de sua mãe, sua avó. Ana, quando já estiver um pouco mais crescida, e seus avós já não estiverem mais na Terra, guardará doces lembranças de ambos. Lembrará do avô, negro, magro, alto, bonito, caminhando em sua direção com uma sacola pendurada no ombro na qual a menina adorava colocar tudo o que encontrava pelo caminho: lata, garrafa... “presentes” que Ana, sorridente, entregava ao avô. A avó Jovita, tão alta quanto o avô, era uma mulata, magra, cabelo preto e curto, muito bonita. Receberá de sua avó muitos mimos, como calcinhas e vestidos feitos à mão.
Voltemos a menina, sentada no colo de sua mamãe, com seu cata- vento nas mãos e por um instante iremos olhá-la como se não a conhecêssemos . Fiquemos assim durante alguns segundos, soltos, em um mês qualquer do ano de 1962, observando mãe e filha. Ainda que não soubéssemos nenhuma informação sobre nossa Ana é impossível não notar que foi gerada com muito amor e que é senão amor o que gota à gota cai dos olhos de sua mãe, lágrimas de felicidade e regozijo por Deus ter lhe dado a filha tão desejada.
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